O rumo da carreira de um atleta profissional de futebol não está mais atrelado somente a sua imagem junto ao treinador da equipe, teoricamente o único competente para avaliar o desempenho positivo ou negativo de um comandado dentro do grupo de trabalho.
A nova era do futebol brasileiro é o do torcedor-RH. Em sua nova “função”, é ele que manda, desmanda, enaltece ou proíbe a atuação de um jogador. Uma inversão de papéis perigosa, que pode abrir precedentes irreparáveis à situação trabalhista dos atletas profissionais.
A fim de ilustrar essa tendência, citamos a recente perda do atacante Luan por parte da S.E Palmeiras. O jogador deixou o Palestra Itália sob forte pressão da torcida e cobiçado por “grandes” do futebol brasileiro, foi embora para atuar com a camisa do Cruzeiro. Nem mesmo a insistência de Gilson Kleina o fez mudar de ideia.
Outro caso emblemático é o do goleiro Júlio César, do Corinthians. Mesmo após garantir um título brasileiro, teve seu nome hostilizado por torcedores a ponto de perder até o posto de reserva na equipe.
Aí, você me pergunta. E o que tem de novo nisso? Lembramos os casos de Vagner Love, Kleber, João Vitor e recentemente Fabinho Capixaba. O diferente, desta vez, foi o discurso de Luan ao desembarcar em Minas Gerais.
“Pretendo fazer um bom trabalho para agradar à torcida, se Deus quiser”, comentou o jogador.
Agradar a torcida?
Claro que, entre aqueles que um atleta deve agradar, está o torcedor. Afinal é ele que paga ingresso e apóia a equipe. Mas na ordem natural dos fatos, o primeiro profissional que Luan deveria pensar em agradar é o técnico Marcelo Oliveira. Uma mostra clara de abatimento e medo do “produto” torcedor. São esses efeitos psicológicos que podem acabar com a carreira de um atleta.
Agora você deve estar se perguntando. E o que devemos fazer para combater esse mal?
A resposta não é simples e depende de uma série de fatores, mas precisamos dar o primeiro passo. Os atletas têm papel fundamental nessa luta, pois a classe é que está em jogo. A paralisação geral é uma alternativa considerada extrema, mas possível em momentos de crise, principalmente quando é colocada em risco a integridade física do atleta e de sua família.
Por isso, penso que é hora de iniciar um novo momento, fazer diferente. Precisamos e estamos preparados para uma mobilização nacional dos atletas, criada em conjunto, com a participação de todos. Só encontraremos nossos caminhos se calçarmos e lutarmos com nossas próprias chuteiras. Fazer parte de uma história que começou a ser contada há 65 anos, e que hoje pode ser reescrita com nossos próprios punhos. Os punhos da conquista.
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