Essa semana veio a público a denúncia feita pelo atleta Ruan Petrick Aguiar de Carvalho, que relatou ter sofrido abuso sexual há nove anos e cujo abusador seria um intermediário. A coação teria ocorrido em troca de uma vaga num grande clube do país, o Santos Futebol Clube. Atualmente, o acusado seria o coordenador das categorias de base da mesma agremiação.
A denúncia formal chegou até a Delegacia de Repressão e Combate à Pedofilia de São Paulo. Nosso trabalho aqui no Sindicato de Atletas de São Paulo, nesse caso específico, fixa-se em dois pontos: acompanhar à distância o inquérito – à distância porque corre em segredo de justiça e somente os envolvidos é que terão acesso – já que nos colocamos à disposição do Delegado Titular e, principalmente, e o mais importante, dar todo o apoio ao atleta em sua condição humana para que tenha resgatado seu conforto emocional.
O caso tem o nosso mais veemente repúdio e traz uma vertente importante do nosso trabalho: levar aos atletas informações para que eles resistam a qualquer tipo de assédio, mostrando que abordagens deste tipo não são normais e que podem trazer graves transtornos em sua condição psíquica, além de afetar, invariavelmente, não somente sua carreira, mas sua vida como um todo.
A divulgação dá relevo ao assunto e mostra como aqui no Sindicato de Atletas SP conduzimos os trabalhos, com a coragem de tratar de todos os assuntos por mais delicados que sejam. Por isso é a entidade pioneira e solidária à essa luta.
Nenhuma outra organização, seja corporativa ou desportiva, trata preventivamente desse tema, ou até mesmo de outro bem espinhoso como o da manipulação de resultados das partidas, entre outros.
O trabalho realizado pela equipe do Sindicato de Atletas é de suma importância para que atletas possam se desvencilhar desse tipo de constrangimento. A campanha “Chega de Abuso” é um dos pilares da instituição no plano social, porque a partir do momento que o atleta entender a necessidade de se afastar desse tipo de abordagem, ele não sentirá medo de dizer não. Ela tem como objetivo propagar que as abordagens, nesse caso a sexual, sem desconsiderar as outras, tem uma consequência nefasta para o atleta em termos emocionais e pode desiquilibrar toda a sua vida, incluindo a carreira.
"Nosso trabalho é fazer com que os atletas tenham a noção de onde estão se envolvendo, mostrar os resultados possíveis e encorajá-los a resistir às abordagens. Que nenhum assédio pode ser considerado como normal no esporte” afirma Rinaldo Martorelli, presidente do Sindicato de Atletas de São Paulo.
"Nenhuma outra instituição, somente nós tivemos a coragem de mexer nas feridas porque sabemos que uma ferida só se cura quando há uma perfeita limpeza, e a limpeza eficaz se faz quando mexemos até o fundo da ferida", completou.
E para melhorar o tratamento dado a essa ferida, o Sindicato de Atletas de São Paulo trará da Inglaterra, no dia 23 de abril, o ex-atleta profissional Andy Woodward, que a partir de sua denúncia estimulou governo britânico e Federação Inglesa de Futebol a trabalharem o tema para minimizar os estragos que esse tipo de abordagem traz. A semana será repleta de atividades e levará informações aos atletas com debates entre instituições que lidam com o tema.
Tudo terá início nesta segunda feira, dia 23 de abril, às 19h, no Museu do Futebol, no Estádio do Pacaembu. O evento em que Andy Woodward contará toda a sua experiência. Ele foi o primeiro jogador na Inglaterra a denunciar que sofreu abuso nos anos 1980. Mostrará os projetos desenvolvidos na Europa e como governo e Federação Inglesa abraçaram essa causa.
Como temos também por conceito o cuidado de nossa gente – atletas, ex-atletas, equipe interna, colaboradores, dirigentes de clubes e todos os que convivem conosco, desenvolvemos o trabalho totalmente comprometido e leal à essa bandeira.
E, na satisfação de saber que o nosso trabalho melhora a vida de muita gente é que encontramos o combustível para seguir em frente, com a mesma alegria de ter vencido uma partida importante depois de ter treinado muito.