EDUARDO ARRUDA
KLEBER TOMAZ
FOLHA DE SÃO PAULO
Na esteira da morte do zagueiro Serginho, jogadores dos principais clubes de São Paulo querem exigir de seus patrões a inclusão de seguro de vida para a classe.
A idéia partiu dos são-paulinos César Sampaio e Rogério e ganhou eco no Corinthians, com Fábio Costa, no Palmeiras, com Sérgio, no São Caetano, com Anderson Lima, e no Santos, com Ricardinho. O grupo pretende elaborar um projeto em conjunto com o Sindicato dos Atletas Profissionais do Estado de São Paulo.
Na segunda, os atletas farão a primeira reunião no sindicato. Até agora, houve telefonemas.
"O momento é adequado. Acho que todo mundo está sensibilizado com o que aconteceu. Precisamos nos unir e exigir nossos direitos", afirma César Sampaio.
Pela legislação atual, os clubes são obrigados apenas a fazer seguro contra acidentes de trabalho para seus jogadores.
"Atualmente a maioria só cobre caso de acidentes e invalidez. Queremos fazer algo que fique também para as gerações futuras", diz César Sampaio, que sofreu traumatismo craniano e fratura no nariz em jogo com o Palmeiras no Brasileiro, em outubro.
Após a morte de Serginho, uma das filhas do jogador são-paulino pediu a ele que parasse de jogar.
Embora queiram a inclusão do seguro de vida, os atletas primeiro terão de fazer com que os clubes façam a cobertura contra acidentes de trabalho, prevista em lei.
No início do ano, o sindicato fez denúncia à DRT (Delegacia Regional do Trabalho) de São Paulo sobre o não-cumprimento da lei em relação à contratação do seguro. O processo está em Brasília, na Coordenação de Registro Sindical do Ministério do Trabalho, já que houve dúvida sobre quem representaria legalmente os atletas.
A Folha entrou em contato com o órgão, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.
Segundo Rinaldo Martorelli, presidente do sindicato, o órgão possui 3.000 atletas. Desses, 100% são jogadores de futebol.
"Somos um sindicato aberto a todo atleta de qualquer modalidade, mas culturalmente quem se sindicaliza é jogador [de futebol]. Além do mais, atleta profissional é quem tem um contrato por escrito, e isso só acontece no futebol", diz ele, que cobra anuidade de R$ 240 de cada sindicalizado.
Martorelli afirma que há 106 clubes de futebol no Estado. Mais de 90% deles, diz, não cumprem a determinação. Ele afirma que o sindicato deve oferecer às agremiações uma apólice de seguro.
"Essa apólice inclui seguro de vida e seguro contra acidentes. Com R$ 11 mensais, o atleta recebe indenização de R$ 70 mil e, se ficar afastado, recebe salário de R$ 1.000", afirma Martorelli.
Segundo o advogado Marcílio Krieger, especialista em direito esportivo, a maioria das agremiações não faz seguro de vida porque acha dispendioso e desnecessário. "Há uma lista de pelo menos 30 seguros que os clubes poderiam fazer, mas não fazem. O seguro de vida é um deles."
O valor do plano de vida do atleta corresponde a 12 meses de salários, além de férias e 1/3 de férias. "Mesmo com o seguro, o jogador ainda assim pode pedir indenização ao clube, se não achar correto o valor pago", diz Krieger.
Além da cobrança do seguro, os atletas irão discutir outros direitos, como férias e calendário.
"A maioria dos atletas não sabe quais são seus direitos. Precisamos mudar isso", afirma o goleiro corintiano Fábio Costa.
Dos quatro grandes clubes do Estado, a Folha conseguiu falar somente com São Paulo e Santos, que afirmaram ter os dois modelos de seguros. O São Caetano afirmou ter o seguro de trabalho, mas não respondeu se teria o de vida -zagueiro do time, Serginho, 30, morreu na quarta retrasada, pouco depois de parada cariorrespiratória no Morumbi.
Folha de São Paulo