<font face=’Verdana’ size=’2′>No terrão, SP enfrenta o desemprego.<br /><br />Entidade, que dá bananas e maçãs para os "contratáveis" e os isenta de taxas, diz que 15% dos sindicalizados do Estado estão sem vínculos.<br /><br />Jogadores sem contrato com clubes participam de treinamento promovido pelo sindicato dos atletas de SP no parque da Aclimação, na zona sul da capital paulista.<br /><br />Por Luís Ferrari e Márvio dos Anjos<br />da Reportagem Local<br /><br />Três vezes por semana, o campo de terra do parque da Aclimação, em São Paulo, é tomado por um grupo que, antes de bater sua bolinha, faz treino físico e trabalha fundamentos. O que parece vadiagem, na verdade, são homens tentando superar o desemprego no futebol.<br />Gente como Jackson Vieira Santana, 24, que sai de Guarulhos de ônibus, trem e duas linhas de metrô -duas horas ao todo- para chegar lá. Com passagens por União Barbarense, Joseense e Taubaté, ele tenta defender a carreira e o casamento, pretendido para 2007.<br />"Minha noiva dá apoio, sei que posso conseguir. Sempre há gente disposta a lhe ajudar", diz Jackson, que já viu colegas do terrão irem para o União Leiria (POR) e Nacional de Rolândia, da Série A paranaense.<br />O que acontece no parque da Aclimação é uma iniciativa do Sindicato dos Atletas Profissionais de SP (Sapesp). O órgão estima que 15% dos sindicalizados estejam sem contrato.<br />Há um mês, o órgão pôs uma comissão técnica para cuidar dos "contratáveis", sem nenhum custo para os atletas. A exigência para participar é que sejam maiores e sindicalizados.<br />"Facilitamos a vida dos atletas e dos clubes, que podem contratá-los a custo zero", diz Rinaldo Martorelli, presidente do sindicato, que alentava a idéia desde 1997. "Nós nos preocupamos em arquivar as avaliações físicas, para o jogador levar para o clube que o contratar." O sindicato ressalta que não recebe pelos negócios.<br />O trabalho é coordenado por José Roberto Portela, técnico e preparador físico com passagens por São Paulo, Fluminense, Portuguesa e Atlético-MG.<br />"A gente fica sabendo dos garotos, e eles de nós. Fazemos uma avaliação e passamos a aprimorar fundamentos, condicioná-los para que possam jogar assim que possível. Graças a Deus, o número oscila muito, eles logo são contratados."<br />A idéia é quebrar o círculo vicioso surgido com o fim do passe -que vinculava o atleta a um clube, mesmo depois que ele deixava de ser júnior. Boleiros sem contrato ficam sem atuar, e o desemprego se perpetua.<br />É o caso de Daniel Evaristo Tenório Cavalcanti, 23. Lateral-esquerdo, ele ficou no Palmeiras B, conheceu Francis e Wendel, mas foi preterido pelo então técnico Marcelo Vilar. Rodou por Osasco e Independente de Limeira. Hoje, espera.<br />Por isso, o terrão da Aclimação, bastante empoçado pelas chuvas, não chega a ser o fundo do poço. "Já joguei em gramado pior, todo desnivelado, que de grama só tinha uns pedaços."<br />Ontem, ao menos quatro atletas foram à Aclimação pela primeira vez. É o caso do volante Cleiton Xavier, 19, reprovado no Palmeiras. "Vou tentar até que digam que não levo jeito."<br />E se não houver talento? Segundo Portela, o trabalho visa a ajudar o mediano. Conta que há no grupo um atleta bom de físico, porém fraco de técnica.<br />"Tento orientá-lo sobre outras carreiras, mas ele me disse que não quer o Milan, no interior já estaria bom. Então o ajudo a superar as dificuldades."<br />E elas são muitas. Por ora, na parte alimentar, o sindicato colabora com bananas e maçãs, já que o trabalho começa de manhãzinha (leve-se em conta o tempo de condução) e ultrapassa o meio-dia. Segundo Martorelli, espera-se criar auxílios-transporte e, futuramente, um CT para os desempregados.<br />Outra preocupação é evitar aproveitadores. O sindicato fica à disposição dos atletas, principalmente na hora de assinar. Mas golpistas não faltam quando se está no desespero.<br />"Teve um cara se passando pelo Barbieri, ex-goleiro da Ponte", lembra o noivo Jackson. "Pegou R$ 200 de alguns colegas, dizendo que ia nos levar para o Nordeste e precisava para despesas. Por sorte não paguei, porque ele deu o cano."<br /><br />Folha de S. Paulo, 23/01/2007<br /></font>