<div><font face=’Verdana’ size=’2′>Caderno especial da Folha de S.Paulo sobre os Jogos Olímpicos publicado no domingo (6/4) estampa um montante na capa: R$ 1.192.976.259,27. Essa é quantia que o governo federal e suas empresas investiram desde 2005 no esporte de alto rendimento, informa o texto de abertura do especial. O caderno não traz dados sobre previsão de desembolso nos próximos anos, embora indique que os valores deverão ser ainda maiores.<br /><br />Uma outra matéria do mesmo jornal, publicada, sem destaque, em 18 de março, já mencionava os investimentos estatais, embora o texto focasse na questão das metas estabelecidas pelo governo para as conquistas olímpicas do Brasil. "Governo contraria COB e traça metas" era o título de matéria da Folha sobre plano elaborado pelo Ministério do Esporte que, entre outras coisas, busca melhorar a performance brasileira nos próximos Jogos Olímpicos.<br /><br />Na reportagem, lê-se que o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) tem a "tradição" de "não realizar projeções". O jornal também nos conta que, ao ser consultado sobre o plano do governo, o COB afirmou que o importante é "dar suporte" aos atletas, "independentemente do número de medalhas". O Comitê diz ainda, sempre segundo a Folha, que "desconhece os critérios, as argumentações e a projeção do ministério".<br /><br />Diante de tão pouca sinergia (para usar um termo em moda) entre os dois entes, é surpreendente ler, na seqüência da matéria, que é exatamente o COB o órgão que receberá dinheiro público para implementar as ações com as quais se pretende alcançar a meta do governo.<br /><br />Os repasses governamentais previstos para os próximos anos, porém, não são mencionados no texto, embora o montante repassado entre 2001 e 2006 (quase R$ 400 milhões) esteja na matéria.<br /><br />O fio da meada<br /><br />A reportagem de 18/3 e o caderno especial de 6/4 da Folha trazem a ponta do fio. Os jornalistas esportivos têm agora uma grande pauta em mãos. Cabe ao nosso jornalismo esportivo a tarefa de desenrolar o resto da história: quanto será repassado ao COB nos próximos anos? De que forma? Quem fiscalizará o uso dessa montanha de dinheiro? De que forma se dará este monitoramento? Seria importante que os jornais começassem a preparar seus profissionais para o acompanhamento desses gastos.<br /><br />Assim, quando um Diogo Silva (lutador de taekwondo, ouro no Pan-2007) disser que falta apoio, a declaração não pegará a imprensa desprevenida. E quando um atleta ou uma equipe obtiver êxitos, as conquistas poderão ser melhor compreendidas se os jornais tiverem noticiado que as verbas para o apoio àquele esporte de fato chegaram aos esportistas e não ficaram pelo caminho.<br /><br />Uma pequena contribuição para a pauta: estudo do NAO (o "Tribunal de Contas da União" na Inglaterra) divulgado em março aponta os riscos de um plano similar, desenvolvido pelo governo inglês, que estabeleceu como meta para a delegação da Grã-Bretanha terminar em quarto lugar nas Olimpíadas de 2012, em Londres.<br /><br />Lá, como cá, na ambição de fazer bonito em grandes eventos esportivos, o governo vai repassar verbas para um ente não-governamental.<br /><br />Enfim, os jornalistas esportivos, que sempre carregaram a fama, às vezes injusta, de fazer matérias "menos importantes", têm a oportunidade de dar uma bela contribuição à sociedade brasileira e, de tabela, faturar cobiçados prêmios de jornalismo. De quebra, ainda, treinam o olhar para a grande pauta dos próximos anos: a preparação à Copa de 2014.<br /><br />Por Fabiano Angélico (Coordenador de projetos da Transparência Brasil)<br />Observatório da Imprensa</font></div>