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Ameaçado de morte em Rondônia, reforço do Taubaté revela lado sórdido do futebol

Se você acha que já ouviu tudo sobre o futebol, espere para ler as linhas abaixo. Novo reforço do Taubaté para a disputa da Série A2, o volante Rai (ex-Portuguesa), falou com exclusividade ao Portal Futebol Caipira e revelou o lado mais sujo e sombrio do futebol brasileiro. “Vi companheiro pedir dinheiro na rua e até fazer fotos com roupas íntimas para pagar a passagem de volta quando estive no Vilhena este ano”, revelou Rai.
 
Ele ainda contou que, após reivindicar com o presidente do clube de Rondônia os salários atrasados do grupo, foi ameaçado de morte. 
 
LEIA A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA
 
Rai, você pode detalhar o que aconteceu no caso do Vilhena-RO?
Primeiramente, é um prazer conversar com vocês do Futebol Caipira e poder contar um pouco mais da minha vida, da minha história e dos últimos casos que ocorreram. No caso de Vilhena, foi uma situação bastante complicada, onde foram vividos dias de mentiras, vamos dizer assim, de promessas não cumpridas, de ameaças e situações que eu jamais pensei em viver no futebol. Quando você sai de sua casa para vestir a camisa de um clube, você espera tudo de melhor, você cria expectativas de conquistar títulos, de conseguir uma ascensão para o clube e lá no Vilhena foi apresentado um projeto, onde no início do ano já conquistamos o título estadual e estava tudo caminhando bem, quando começaram os atrasos de salários. 
 
Ficamos ali cinco meses, sendo que recebemos apenas um mês de forma picada, não o ordenado inteiro. Ficaram quatro meses de salários atrasados e algumas promessas de premiações que não chegaram para nós. Chegou um determinado momento que nós atletas decidimos ir embora, pois a maioria, se não todos, estavam passando por dificuldades financeiras, alguns dos atletas não tinham ido com as famílias e os filhos cobrando, as esposas, os pais, esperando alguma coisa de nós. E chegou o momento que não tinha mais clima de vestir a camisa do clube, não iríamos representar bem, como estávamos fazendo durante as competições. 
 
Então decidimos sair do clube, não participar do último jogo, porque ninguém tinha cabeça realmente e foi quando ocorreram as ameaças, de tacar fogo no alojamento, de botar todo mundo na rua. Até que, por fim, chegou uma ameaça, não diretamente a mim, mas de que eu só não estaria morto porque ainda estavam respeitando minha esposa, que estava ali comigo.  Esta foi a gota d’água, todos ficaram com medo e amedrontados de continuar.  
 
E para nós fugirmos foi uma coisa surreal, parecia filme, graças a Deus contamos com a ajuda de anjos na nossa vida, que podemos chamar assim, pessoas da cidade, pessoal do SAPESP (Sindicato dos Atletas Profissionais do Estado de São Paulo), da FENAPAF (Federação Nacional de Atletas), foram surpreendentes com a gente, dando todo respaldo, todo amparo que precisamos. E foi realmente cena de filme, estrada sem luz, cheio de buraco e longas cinco horas de viagem até uma cidade vizinha, com medo de alguma emboscada, mas, graças a Deus tudo saiu bem e cada um conseguiu chegar em seu destino, para estar com suas famílias.

Como foi a atuação do sindicato neste caso?
Umas duas semanas antes de sairmos da cidade, nós entramos em contato com o SAPESP através do Dr. Filipe Rino, que se mostrou super solícito conosco desde o início, entendeu nossa situação, tanto na veracidade quanto na gravidade que poderíamos estar enfrentando ali. E chegamos ao sindicato desta maneira, que foi muito eficiente com a gente, em poucos dias já nos orientaram, deram todo respaldo e conseguiram providenciar tudo para nos retirar com segurança da cidade e o mais rápido possível. Eu acho que o sindicato foi fundamental para nós, particularmente, eu já conhecia o pessoal, por ser de São Paulo, mas nunca tinha precisado do sindicato em um caso tão extremo e foi muito gratificante ter este respaldo do nosso lado, saber que o jogador não está sozinho, sem contar que estávamos em uns dez atletas, que alguns deles não tinham uma grande instrução, não tinham nenhum contato para ajudá-los a sair de lá, então eu acho que foi fundamental a participação do SAPESP e da FENAPAF, nesta nossa luta para vir embora para casa.

Sendo um dos líderes do time, como você conduziu esta situação no Vilhena-RO?
Eu era sim uma espécie de líder no Vilhena, os atletas, não só os que vieram embora, mas também os demais, tinham um grande respeito por mim, procuravam me ouvir e aceitavam minhas opiniões, não só neste caso, mas em outros que eu não concordei com os atletas, em caso de paralisação por falta de salários, chegamos até a paralisar umas duas ou três vezes e eu sempre tentei fazer o que era melhor para todo mundo. Eu era o mais transparente possível, conversava com o presidente e com a diretoria a respeito das necessidades de cada um, quando um atleta estava precisando de dinheiro nós tentávamos conseguir alguma coisa, para aqueles que estavam necessitando mais. Chegamos até aos mais novos, cobrando as coisas de higiene básica, um sabonete, um desodorante. 
Então o que procuro ser e fui lá no Vilhena, é ser o mais sincero possível, o mais transparente possível e parceiro. Quando você está em um grupo e quer ser vencedor, você precisa de todo mundo, talvez o cara que não jogue de imediato vai a ser importante lá na frente e você não pode deixá-lo desamparado.
 


 

E na verdade quem tomou esta decisão de vir embora, de falar que não ia dar mais, fui eu.  Cheguei no presidente e falei que não tinha mais clima, não tinha mais cabeça para continuar jogando pelo clube, que eu estava passando por algumas dificuldades, até financeiras, foi quando alguns atletas que já estavam com esta vontade de ir embora, viram que eu não ia mais treinar, que eu não queria mais jogar, que eu não tinha mais cabeça, nem força de vontade para lutar, eles me deram apoio e falaram que se o Rai não vai mais jogar eu também não vou, eu estou fora, então foi bacana nesta parte. O que eu tentei foi ser o mais leal possível com estes meninos que estavam lá comigo, que estavam ajudando a gente. E foi neste momento que decidimos vir embora, que ia ter mais um jogo da final e sabíamos que poderíamos dar o título para ele, ou não, pois tinha um adversário que respeitávamos muito, inclusive tínhamos acabado de perder o título do segundo turno para eles, mas tínhamos grandes chances de conquistar o título, enfim, conseguir a vaga para Copa do Brasil e mais premiações em dinheiro e mais não recebimento de salários, então para nós foi a gota d’água e decidimos sair pela porta da frente, mas não foi bem assim. 
 
Pedimos nossas passagens para ir embora, queríamos só o dinheiro da passagem e nem isso nos foi dado. Mandaram até alguns atletas pedirem dinheiro na rua e tem casos aí, que é até difícil de comentar, prefiro não citar nomes, mas teve atleta que tirou foto de roupa íntima para arrecadar dinheiro e juntar com o pouco que ele tinha para comprar a passagem, mas graças a Deus o sindicato nos ajudou e ele conseguiu chegar com o dinheirinho dele em casa, sendo que era um pai de duas filhas, tinha sua esposa, então estas coisas que foram machucando e deixando a gente mais descrente em relação à situação.
 
Você foi revelado na Portuguesa. Mantém algum tipo de relacionamento com o clube?
Passei longos dez anos na Portuguesa, um clube que tenho um enorme carinho. Eu falava que a Portuguesa era minha primeira casa, porque eu passava mais tempo lá do que propriamente em minha casa. Tenho um grande carinho, sempre que posso vou acompanhar os jogos, vou rever meus amigos. É muito gratificante ter a Portuguesa no meu currículo e fazer parte da minha história, porque o Rai só chegou aonde chegou, por causa da Portuguesa. Foi o clube que me deu uma base, que me revelou para o futebol, então eu serei eternamente grato a este clube. E poder voltar a jogar um Campeonato Paulista, voltar ao cenário Paulista está sendo sensacional, era um objetivo que eu tinha e quando surgiu este convide (do Taubaté) foi espetacular, porque era o que eu imaginava, era o que eu tinha em meus planos, de ficar aqui no eixo de São Paulo, arrumar uma equipe estruturada, de qualidade, para poder brigar pelos objetivos. E eu estou muito feliz com esta nova etapa que vai se iniciar no Taubaté, uma equipe que está se mostrando muito bacana, estruturada , determinada, com pessoas que querem alcançar os objetivos, chegarem em lugares maiores, então é isso que eu espero para minha vida.
 
Eu sinto muita saudade da Portuguesa, comento sempre com os amigos, principalmente com os amigos da época, lembrando como era bom aquele tempo, de concentração, das brincadeiras, do vestiário, o ambiente sempre foi muito bom, jogar no Canindé com a torcida, isso era ótimo e dá saudade sim. Na Portuguesa passei momentos bons e momentos ruins também, mas aprendi muito, fiz muitos amigos ali dentro, ainda tenho amigos lá hoje e realmente a Portuguesa foi fundamental na minha vida. Talvez sem a Portuguesa as pessoas não me respeitariam tanto quanto respeitam hoje, porque sempre tem esta referência, falam que sou o Rai da Portuguesa, então isso tem certo peso e por tudo isso sou eternamente grato a este clube.
 
Qual a sua análise em relação rebaixamento da Portuguesa no caso da perda de pontos pelo suposto erro na escalação do meia Heverton no Campeonato Brasileiro de 2013?
Esta situação do Heverton é muito complicada, porque envolve um amigo pessoal, que é o Heverton, jogamos juntos, éramos companheiros de quarto, parceiros mesmo, e a Portuguesa que é um clube que admiro, que eu amo, que eu tenho um eterno carinho. Fica difícil, eu tentei falar com todos na época, não consegui saber direito, ninguém sabe explicar direito ainda o que aconteceu, acredito que ainda está sendo averiguado o caso e é lamentável. Um clube como a Portuguesa, eu passei dez anos ali e nunca vi nada parecido, as pessoas sempre muito profissionais, corretas, todos sempre muito ligados e fica difícil explicar. É uma pena, porque a Portuguesa estava em um momento bacana, tinha voltado para a elite do futebol, tinha tudo para conseguir permanecer, para se firmar na série A, poder dar continuidade em um trabalho que foi sonhado tanto tempo lá dentro, desde que eu passei lá, eu tive boas oportunidades de subir com o time para a série A, então é difícil. Fico chateado pelas partes envolvidas e espero que tudo se esclareça um dia, que tudo volte ao normal e a Portuguesa volte ao lugar que merece.
 
Como está sentindo fisicamente e emocionalmente para voltar a jogar um Campeonato Paulista?
Vou te falar que estou bastante ansioso para começar este Campeonato da série A2, para que comecem os treinamentos, para que os jogos comecem, porque me sinto bem fazendo o que gosto. 
Eu estou bem fisicamente, treino diariamente, não posso dizer que estou 100%, mas estou bem preparado para esta pré-temporada, acredito que vou suportar super bem, devido a treinar diariamente, jogar durante a semana, finais de semana, sempre com o pensamento de manter uma forma física bem próxima do ideal, para não sofrer e estar bem próximo mesmo do que se precisa para jogar em alto nível e disputar um Campeonato desta importância. Então, converso com o pessoal do clube, trocamos mensagens e não vemos a hora de iniciar os treinamentos para descarregar esta carga, se Deus quiser fazer um ano de sucesso. 
 
E quais são as expectativas em jogar pelo Taubaté?
Minhas expectativas são as melhores possíveis, porque estou voltando para São Paulo e está sendo muito especial por causa disso. A série A2 do Campeonato Paulista é muito forte, eu tive a oportunidade de disputá-lo uma vez e tive êxito, fico muiuto feliz, pois na única oportunidade que tive consegui ser campeão, foi pela Portuguesa (2007) e acho que isso pode nos ajudar no Taubaté, este retrospecto. Espero que seja minha segunda participação e que venha mais um título, seria muito bacana. O meu objetivo é voltar para o cenário aqui de São Paulo, cenário brasileiro de futebol, porque aqui é o grande eixo, as pessoas buscam, acomanham e ficam ligadas nas competições do futebol Paulista.  A série A2 é um Campeonato que tem grandes clubes como o Bragantino, a própria Portuguesa, o Santo André, São Caetano, Juventus, uma série de equipes tradicionais que estarão nesta disputa e o número reduzido de vagas para o acesso vai deixar a competição ainda mais emocionante, ainda mais equilibrada. E espero ter muito sucesso, que o nosso time consiga dar uma liga bacana, um entrosamento legal e que a gente consiga chegar lá na frente sempre brigando pelas primeiras posições e chegar no final com uma dessas vagas.
 
Como foi recebido em seu novo clube?
Fui recebido muito bem no Taubaté, muitíssimo bem, todos muitos simpáticos, prestativos, foi uma chegada da melhor maneira possível. Todos se comunicando, preocupados em saber se estava tudo bem, se precisava de alguma coisa. Eu tive a oportunidade de estar na apresentação do novo uniforme do clube, a torcida muito apaixonada, diretoria muito empenhada em fazer um ano de sucesso. Então, foi uma chegada maravilhosa, da melhor maneira possível, com dizem, foi com o pé direito e com a força de todos podemos chegar muito mais longe. O Taubaté é uma equipe muito estruturada, tem seu planejamento bem elaborado, seus objetivos, seus projetos, alguns já em andamento, outros que vão se iniciar e estão dando todo respaldo que os jogadores precisam. Eu acho que isso mostra que o clube é estruturado, que quer brigar por alguma coisa e isso é fundamental, só nos deixa mais empolgado para começar a trabalhar e dar esta resposta dentro dos gramados, para retribuir todo carinho e atenção especial que estão tendo com a gente.
 
Qual a importância do sindicato na sua vida e na vida dos atletas profissionais?
Eu nunca tinha percebido o quanto o sindicato é importante e quanto ele representa para um atleta de futebol. Muitas vezes sabemos que existe, eu propriamente sabia da existência do sindicato, eu ia lá, mas não sabia o poder que ele tinha, não sabia mensurar o que poderia trazer de benefícios e tem uma série de vantagens. Hoje o sindicato tem um projeto para os atletas que estão sem clube, uma série de parceiros onde conseguimos obter descontos, até para estudar, então eu acho que é fundamental. Sem falar na eficiência dos advogados, como o Thiago Rino, como Filipe Rino, como o Dr. Guilherme Martorelli também, aliás, o Dr. Martorelli que é uma pessoa sensacional, não conhecia pessoalmente, mas foi uma pessoa que estava todo momento do nosso lado quando ouve a situação no VIlhena, falei por diversas vezes com ele no telefone e posso dizer que é uma pessoa de grande caráter, sensacional. Então o sindicato está bem equipado, bem respaldado de grandes profissionais para dar o suporte aos atletas, o próprio Mauro, por exemplo, que faz as palestras para os jogadores, eu já assisti diversas vezes, o Osmir também, sempre dentro dos clubes, são uma série de pessoas de alto nível que estão ali para prestar todo atendimento, todo suporte que o jogador precisar. 
 
Eu acho que nós jogadores deveríamos aproveitar mais disso, aproveitar mais a influência e poder que o sindicato tem para conseguir mais coisas para nós, para conseguir brigar pelos nossos direitos. Eu sou muito grato e sempre serei grato pelo que fizeram, pois o SAPESP e a FENAPAF tiveram um papel fundamental em uma fase muito difícil de nossa vida.

Rai, agradecemos por nos conceder esta entrevista, desejamos sucesso em sua carreira. Para encerrar, suas considerações finais.
Eu só quero agradecer a oportunidade de falar um pouco da minha vida, um pouco da minha carreira. Agradecer todos pelo carinho e por tudo que fizeram por mim. Quero desejar a todos um feliz natal e que 2016 seja um ano repleto de alegrias, de superação, que todos possam se dar bem em suas atividades, para os atletas que passaram por esta dificuldade (caso Vilhena-RO) e que este tipo de situação não aconteça nenhum outro atleta. Quero deixar um grande abraço e dizer para todo mundo acompanhar o Taubaté na A2, acompanhar o Rai e com fé em Deus vamos buscar este título, vamos buscar o acesso e ter um ano de sucesso. 

fonte: www.futebolcaipira.com.br

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