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Atletas se unem para sobreviver à guerra na Síria e lutar contra opressão

Imagine ver seus companheiros de trabalho serem presos sem motivo aparente, torturados, vítimas de atentados e até assassinados. Essa é a realidade hoje de muitos atletas da Síria, país que sofre há mais de dois anos com uma guerra civil. Centenas foram perseguidos por se oporem ao regime do presidente Bashar al-Assad (desde 2000 no poder), e 115 mortes de esportistas foram registradas.

Para tentar sobreviver ao caos, ajudar o resto da população e seguir praticando suas modalidades, na medida do possível, cerca de 400 esportistas se organizaram e criaram a Liga dos Atletas Sírios Livres. Iniciativa sustentada basicamente pela esperança.

– A Liga dos Atletas Sírios Livres tem uma grande responsabilidade na luta contra a ditadura. Mas no momento o grupo só tem a capacidade de atender a situações de emergência. É muito complicado garantir um abrigo para atletas que perderam tudo por conta dos crimes de al-Assad, além de ajuda médica para os feridos. Os serviços sempre são limitados pela precária condição financeira. Eles dependem de pequenas doações. Vivemos à sombra destas condições precárias – afirmou Soner Ahmad, representante da Coalizão Nacional da Revolução Síria e Forças de Oposição, e colaborador da Liga dos Atletas Sírios Livres, em entrevista exclusiva ao LANCE!Net.

Desde que assumiu o governo, na década de 1970, a família al-Assad procurou alinhar as organizações esportivas locais com seu partido, o Ba'ath. O objetivo era aproveitar o potencial de concentração popular que as instalações permitiam, com seus grandes espaços, além da idolatria aos atletas. Porém, a Síria começou a mudar de vez em março de 2011, quando os primeiros protestos na capital Damasco, influenciados pela Primavera Árabe, reivindicaram maior liberdade e democracia. Desde então, o país tem lidado com uma guerra civil que provocou mais de 70 mil mortes.

O esporte na Síria foi destruído. Antes frequentemente cheios, os estádios foram transformados em bases militares para as forças de Bashar al-Assad. A maior parte das ligas esportivas interrompeu suas atividades, menos o futebol, que foi mantido de uma forma estranha, apenas para continuar recebendo ajuda financeira da Fifa. Como muitos palcos foram ocupados, vários times são obrigados a jogar na mesma arena, no mesmo dia. Muitos clubes abandonaram o campeonato devido às dificuldades. Outros tentaram enfrentá-las, e sofreram por isso. Caso do Wathba, que perdeu o jovem Yussef Suleiman, de 23 anos, vítima de bombardeio em Damasco. 

 
Há também os casos dos atletas que foram atacados por serem contra o regime. Não faltam relatos de esportistas que não têm mais pernas ou braços, após terem sido alvejados pelo exército local. Além disso, é extensa a lista daqueles que foram presos sem julgamento e seguem nesta situação, como por exemplo o equitador Mohamad Adnan Alkisar, há 20 anos na cadeia.

A Liga dos Atletas Sírios Livres foi então criada para lutar pelos colegas de profissão e ajuda a população local. A instituição não é vinculada à Federação Síria de Esportes e do Comitê Olímpico da Síria, e nem a qualquer outra entidade. O grupo conta com muitos esportistas em nível internacional, como Rami Issa, do basquete (parou de jogar definitivamente, em prol da causa), e Firas Al Khatib, do futebol (só voltará a jogar pela seleção quando os ataques a Homes forem interrompidos). Aliás, as duas modalidades formam a base da Liga, com quase 400 membros. Porém, a missão é muito complicada, ainda mais sem o devido apoio estrangeiro.

– Ninguém deu um passo à frente para dar abrigo ou atender às necessidades dos nossos times. Nem mesmo nossos vizinhos das nações árabes, que deveriam tratar os atletas sírios como deles próprios nestes tempos difíceis, já que apoiam a nossa causa e reconhecem a Coalizão Síria como a representante do povo. A Fifa e o Comitê Olímpico Internacional (COI) responderam negativamente ao apelo dos nossos atletas – contou Soner Ahmad.

 

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