O ESTADO DE S.PAULO
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SÃO PAULO – Preocupado com o desgaste físico dos jogadores na Copa do Mundo do ano que vem, o Sindicato dos Atletas de São Paulo está promovendo quatro jogos-teste em diversas cidades brasileiras para avaliar a influência das altas temperaturas na condição dos atletas. As partidas estão sendo realizadas sempre às 13h, durante o mês de julho, mesmo período do Mundial, com o acompanhamento de médicos e fisiologistas.
De acordo com os resultados dos testes, a entidade – com o apoio da Fifpro, o Sindicato Mundial dos Jogadores de Futebol – pretende entrar em contato com a Fifa e se, necessário, solicitar medidas para minimizar o desgaste, como a adoção da parada para a reidratação dos atletas ou até a alteração dos horários. Vinte e quatro partidas da Copa estão marcadas para as 13h. Se não houver acordo, promete levar o assunto para os tribunais.
Dois jogos-teste já foram realizados. No dia 11 de julho, o Nacional, vice-campeão amazonense e que está participando da Copa do Brasil, enfrentou um time do Exército em Manaus. Dois dias depois, em Fortaleza, os estudos foram realizados no confronto entre uma equipe de jogadores profissionais do próprio Sindicato que estão à procura de emprego, os chamados jogadores livres, e o time de juniores do Ceará.
Na próxima semana, será a vez de Brasília. O último teste será realizado em São Paulo como contraponto às outras cidades já que, no final do mês de julho, a cidade vai apresentar temperaturas mais amenas.
O projeto foi concebido pelo Sindicato dos Atletas do Estado de São Paulo no ano passado, logo após a divulgação da tabela da Copa.
"Joguei futebol e sei como é insuportável atuar em Manaus e no Nordeste em determinados horários", diz Rinaldo José Martorelli, presidente do Sindicato. "Precisamos resguardar a saúde dos atletas."
Com o levantamento científico, a entidade pretende criar uma documentação que sirva como referência para a Fifa. "Não existem dados que possam servir como base de estudo", explica o fisiologista Turíbio Leite de Barros, coordenador da pesquisa e um dos mais renomados especialistas do Brasil em Fisiologia do Exercício. "Antes só podíamos fazer comparações por analogia, com outras categorias que trabalham expostas ao sol, como cortadores de cana, por exemplo. Agora teremos a resposta de que o futebol precisa", diz Martorelli.
A iniciativa ganhou um aliado de peso: a Fifpro (Federação Internacional de Futebolistas Profissionais). O presidente da entidade, o italiano Leonardo Grosso, iniciou uma campanha para pressionar o presidente da Fifa, Joseph Blatter, a modificar o horário de alguns jogos da Copa do Mundo de 2014 a pedido de jogadores europeus.
A Fifpro cita o exemplo dos jogos da Copa das Confederações como argumento. Italianos e espanhóis reclamaram bastante da temperatura e do excesso de umidade no Nordeste. A Itália enfrentou o México (Rio), o Japão (Recife) e o Brasil Salvador) num intervalo de seis dias na primeira fase.
"Aos 15 minutos do segundo tempo parecia que eu já havia jogado 200", declarou o italiano De Rossi depois da partida com o Japão.
Na semifinal, a Azzurra enfrentou os espanhóis com uma temperatura de 33 graus em Fortaleza e teve de jogar a prorrogação. E três dias depois decidiu o terceiro lugar com o Uruguai às 13h em Salvador, o que revoltou a delegação.
RESISTÊNCIA
Martorelli conta que, até o momento, após diversos contatos com a Fifa, a questão do clima não parece ser uma prioridade para a entidade máxima do futebol. Ele espera que a situação mude com o estudo.
"Precisamos aguardar os resultados para estudar as providências. Nossa intenção é resolver a questão amistosamente. Mas, se não houver acordo com a Fifa, vamos entrar na esfera jurídica."
Nesta quarta-feira, Blatter, afirmou que a Copa do Mundo de 2022, que será realizada no Catar, deve ser transferida para os meses de inverno para fugir do calor escaldante do verão. Para o Brasil, no entanto, a questão não ainda foi aprofundada.
O principal empecilho para a Fifa mudar os horários dos jogos do próximo Mundial é o acordo para transmissão do evento pela televisão, que gira em torno de US$ 4 bilhões (R$ 8,8 bilhões).