No seu Congresso de Berlim, em 1936, a FIFA proibiu os jogadores de recorrer a empresários porque sentiam que tal atitude podia encorajar transferências ilegais. Passaram 70 anos e o assunto ainda não foi resolvido a contento.
O papel dos empresários
Agora mais do que nunca, e com cada vez mais dinheiro a circular no desporto, há uma necessidade cada vez mais premente de examinar de forma exaustiva o papel dos empresários de jogadores: "Muito do dinheiro resultante do jogo vai para os bolsos de pessoas que não o reinvestem, ou não na mesma quantidade, no futebol", afirma o Diretor para o Futebol Profissional da UEFA, Giorgio Marchetti. "Os clubes, quando recebem o dinheiro das televisões, investem-no no futebol".
Recomendações "duras, embora realistas"
Em última análise, a FIFA é o organismo no qual a jurisdição desta questão acaba por cair, mas, no início desta semana, o Grupo de Trabalho de Futebol Profissional da UEFA finalizou uma extensa lista de recomendações sobre o papel dos empresários de jogadores no futebol europeu e esta será submetida ao Comitê Executivo da UEFA para que sejam tomadas medidas. Ainda não podem ser tornados públicos quaisquer detalhes destas recomendações, mas a UEFA descreve-as como sendo "duras, embora realistas".
Toda a gente no futebol profissional tem um papel a cumprir Giorgio Marchetti
Cumprir o seu papel
Estas recomendações incidem em três áreas: o acesso do empresário à profissão, a atividade como empresário e o cumprimento e entrada em vigor das regras. O grupo de trabalho, que se reuniu pela primeira vez na última Primavera, inclui David Dein e Roberto Bettega, da Juventus, assim como representantes das Ligas, federações, sindicatos de jogadores e os próprios agentes. "Não chega simplesmente culpar os empresários por todos os problemas. Toda a gente no futebol profissional tem um papel a cumprir e é por isso que trouxemos todas as partes para a mesa, para discutirmos o assunto no seio deste grupo de trabalho", acrescenta Marchetti.
Principal contribuinte
Um dos principais contribuintes para a reunião desta semana foi Mick McGuire que, nos seus tempos de jogador, foi um incansável médio do Coventry City FC e Norwich City FC. Atualmente, faz parte da direção da FIFPro, o sindicato mundial de futebolistas, é diretor-executivo adjunto da Professional Footballers’ Association (PFA), o sindicato de futebolistas ingleses, e é, também ele próprio, um empresário de jogadores. "É claro que estamos mais próximos de elaborarmos, em conjunto, algo em nome da UEFA que esperemos que a FIFA venha também a aceitar", afirmou após a reunião de terça-feira.
Especificidade
"Ajudará a definir os nossos próprios regulamentos, que são mais linhas-mestras do que propriamente regulamentos, pois não impedem qualquer associação ou federação de impor as suas próprias legislações. Devido à especificidade de cada país em termos de impostos e leis laborais, não se pode apenas dizer ‘isto é aquilo que devem fazer’, porque muito do trabalho feito é além-fronteiras, assim como nacional, e é necessário que alguém o supervisione", acrescentou McGuire.
Cada parte necessita saber qual o pagamento envolvido e para onde vai parar, e isso é algo que não está a acontecer" Mark McGuire
Transparência
Uma palavra andava esta semana na boca de toda a gente. "A palavra-chave é transparência", disse McGuire. "Atualmente, um empresário representa um jogador e é pago, mas ninguém sabe quanto é esse pagamento e não temos propriamente uma base de dados de cada jogador e cada empresário, algo que todas as federações necessitam. Cada parte necessita saber qual o pagamento envolvido e para onde vai parar, e isso é algo que não está a acontecer".
Não há uniformidade
Marchetti refere: "Não há uniformidade nos pontos de vista sobre este assunto. Em Inglaterra, a Premier League apóia a possibilidade de um empresário trabalhar a favor de um clube na transferência de um jogador, bem como quando a transferência está concluída e o jogador necessita, então, de negociar o seu contrato. Ele pode, depois, intervir como empresário do jogador. Mas mesmo em Inglaterra, a própria Football League [que tutela as restantes divisões profissionais] não é da mesma opinião".
"Uma espécie de selva"
A identidade dos empresários de jogadores também é um problema. "Há uma necessidade clara de ter pessoas com habilitações para a função de empresários, porque é uma garantia de que essa pessoa tem certos padrões e uma boa base, com um conhecimento profundo dos assuntos que a atividade envolve", indica Marchetti. "Neste momento, é uma espécie de selva, onde há empresários licenciados a trabalharem no mesmo meio que empresários não-licenciados e, em alguns casos, com empresários licenciados a delegarem tarefas a pessoas que não estão tão qualificadas como eles próprios".
Colocar os regulamentos em prática
Chegar a acordo quanto aos regulamentos é uma coisa