UOL ESPORTES
Os horários dos jogos da Copa do Mundo de 2014 não agradaram a Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol (Fenapaf). Preocupada com a quantidade de partidas marcadas para as 13h, a entidade enviou uma carta à Fifa pedindo respeito aos direitos dos jogadores e ameaça paralisar o torneio caso não seja ouvida.
De acordo com o presidente da entidade, Rinaldo Martorelli, os jogos no início da tarde expõem os atletas a riscos a saúde. Em entrevista ao UOL Esporte, Martorelli disse que apoia a realização da Copa do Mundo no Brasil. Entretanto, adiantou que não aceitará que jogadores profissionais atuem em condições “insalubres” por imposição da Fifa.
“Já mandamos um aviso. Não vamos aceitar imposição”, disse ele. “Estamos dispostos a buscar na Justiça um ambiente salubre para os jogadores. Tenho certeza que, pela tradição de respeito aos trabalhadores no Brasil, impedimos facilmente um jogo da Copa.”
CONFIRA QUANTOS JOGOS CADA CIDADE RECEBERÁ EM CADA HORÁRIO
Cidade-sede | 13h | 15h | 16h | 17h | 18h | 19h | 21h | Total |
Belo Horizonte | 5 | zero | zero | 1 | zero | zero | zero | 6 |
Brasília | 5 | zero | zero | 2 | zero | zero | zero | 7 |
Cuiabá | zero | zero | 1 | zero | 3 | zero | zero | 4 |
Curitiba | 1 | zero | 1 | 1 | zero | 1 | zero | 4 |
Fortaleza | 1 | zero | 3 | 2 | zero | zero | zero | 6 |
Manaus | zero | 2 | 1 | zero | zero | zero | 1 | 4 |
Natal | 2 | zero | zero | zero | zero | 2 | zero | 4 |
Porto Alegre | 3 | zero | 1 | 1 | zero | zero | zero | 5 |
Recife | 2 | zero | zero | 2 | zero | 1 | zero | 5 |
Rio de Janeiro | 1 | zero | 1 | 2 | zero | 3 | zero | 7 |
Salvador | 2 | zero | 2 | 2 | zero | zero | zero | 6 |
São Paulo | 2 | zero | 1 | 3 | zero | zero | zero | 6 |
Total | 24 | 2 | 11 | 16 | 3 | 7 | 1 | 64 |
De acordo com a tabela do Mundial de 2014, 24 dos 64 jogos da Copa estão marcados para as 13h. O horário é o que mais concentra partidas. Cerca de 37% dos jogos da Copa acontecerão nesta hora. Para as 16h, por exemplo, estão marcados 17% das partidas.
Segundo Martorelli, os jogos às 13h vão obrigar atletas a disputar partidas em condições arriscadas. Por isso, ele quer que essa questão seja posta em debate. “Em Brasília, em julho, a umidade cai a níveis de um deserto. Imagina um jogo às 13h?”, questionou. “Natal e Recife terão jogos às 13h. Imagina uma seleção da Europa jogando lá?”
Parte desse debate começou nesta semana. Martorelli está em um congresso da Federação Internacional de Jogadores de Futebol (FIFPro) em Washington, nos Estados Unidos, e levou o assunto ao conhecimento de outros sindicatos de atletas. “Recebemos o apoio imediato”, contou. “Quando contamos sobre o clima das cidades, os estrangeiros se assustam.”
Já a Fifa se defende. A entidade informou em nota que não recebeu qualquer carta da Fenapaf a respeito dos horários dos jogos. Mesmo assim, adiantou que a saúde dos jogadores é “altamente prioritária” na organização de um torneio como a Copa.
Por isso, a Fifa disse que analisou o histórico de temperaturas de todas as cidades-sede da Copa antes de definir a tabela do torneio. “As cidades com as maiores médias de temperatura, como Manaus, Cuiabá e Fortaleza, não terão nenhum jogo começando às 13h durante a fase de grupos”, complementou a entidade, citando sua preocupação com os horários.
A Fifa também informou que acompanha as condições climáticas de cada partida baseada em um metodologia chamada Wet Bulb Globe Temperature (WBGT). Neste sistema, são avaliadas temperatura, umidade, velocidade do vento e radiação solar do ambiente.
Usando esses parâmetros, a equipe de médicos da entidade pode determinar, se necessário, pausas adicionais para hidratação de jogadores durante partidas do Mundial.
A Fifa ressaltou ainda que os horários dos jogos dependem também da logística de viagem para cada sede e do mercado de direitos de transmissão. Por isso tudo, e considerando que os atletas estarão seguros, a entidade não cogita alterar os horários.
Martorelli disse que procurou a entidade e fez o que deveria ter feito. Segundo ele, caso a Fifa não apresente os estudos que comprovem a ausência de riscos aos atletas, a solução será mesmo procurar a Justiça. “No Judiciário, sei que vamos ganhar.”