Hoje em dia é muito difícil o enquadramento do atleta de futebol em uma categoria considerada tipicamente profissional, por causa das peculiaridades da própria profissão e da forma como ele, atleta, se mostra para o público.
A maneira como surgiu o futebol profissional em nosso país, já com um mecanismo de dominação (a lei do passe), gera nos atletas a chamada cultura de omissão, fazendo que ao longo dos tempos, ele delegasse a dirigentes e depois a procuradores, a responsabilidade de tomar atitudes que deveriam ser exclusivamente de sua responsabilidade, e sempre as acatando, mesmo quando essas decisões, não eram as mais acertadas em seu entendimento.
Aliados a isso, a imagem de um grande brincalhão irresponsável e muito bem remunerado, o desinteresse, a falta de vontade de conquistar novos espaços, o medo de participação e a mentalidade individualista, dificultam cada vez mais organização da categoria, como uma de profissionais, na acepção exata do termo.
Com a aprovação da nova lei, terão, todos os participantes da relação do futebol (atletas, clubes, confederação e federações) de mudar a forma de proceder, já que se vislumbra a curto prazo um verdadeiro profissionalismo, com atitudes mais maduras (atletas) e, principalmente, mais democráticas (dirigentes). Já esta mais do que na hora que os impasses do futebol possam ser resolvidos por todos os diretamente interessados, como acontece com outras categorias de trabalhadores. Empregadores e empregados discutindo a racionalidade dos calendários, as formulas de disputa, participação nas negociações. A transmissão dos jogos pela TV, por exemplo, e a definição daquilo que se cabe a cada um, enfim todos ajudando com a experiência adquirida ao longo do tempo e cedendo um pouco de espaço, um pouco do que é seu em prol do futebol e em respeito ao bem comum e ao torcedor, pois, é ele que sustenta toda essa estrutura.
Nessa nova etapa, cabe ao atletas desenvolver importante papel. Primeiro com ele próprio , já que com possibilidade maior de escolha, os clubes optarão pelos que reunirem, num resultado final, melhores condições dentro e fora do gramados. Depois com a categoria como um todo, pois o fortalecimento dela facilitará o trabalho de todos, os do grande e pequenos clubes. A competência é que dirá o caminho que cada um tem a seguir.
Estaremos aguardando ansiosamente esse momento.
( Rinaldo José Martorelli, Presidente do Sindicato de Atletas ).
Jornal A Gazeta Esportiva
03/03/1998