<div><font face=’Verdana’ size=’2′>A LEI PELÉ está completando dez anos e uma coisa é indiscutível: a cartolagem ganhou a guerra da propaganda para convencer a opinião pública de que é maléfica.</font></div><div><br /><font face=’Verdana’ size=’2′>Até gente boa repete o discurso escapista dos cartolas. Gente boa, capaz, mas nem sempre bem informada. Porque de tanto ouvir o discurso da cartolagem continua a ignorar que as transações de nosso futebol com o exterior seriam exatamente como são hoje por causa de outra lei, chamada de Bosman, que passou a vigorar em 1995 na Europa e fez a Fifa se curvar.</font></div><div><br /><font face=’Verdana’ size=’2′>E de 1995 para cá, lá se vão 13 anos, não apenas dez. Se quiser uma prova, pesquise como foi a transferência de Ronaldinho Gaúcho do Grêmio para o futebol francês, quando aqui ainda não vigorava a Lei Pelé e lá já vigorava a dita Lei Bosman.<br /><br /></font></div><div><font face=’Verdana’ size=’2′>Mas é inegável que os cartolas ganharam no discurso.<br /><br /></font></div><div><font face=’Verdana’ size=’2′>Não só porque o próprio Pelé andou envergonhado de defender a lei que leva seu nome, depois de que foi estuprada por Maguito Vilela em sua regulamentação, como, também, porque jamais ele a entendeu bem, dada a superficialidade que o caracteriza.<br /><br /></font></div><div><font face=’Verdana’ size=’2′>Aliás, mais grave que se aproveitar de sua lei no projeto em Jundiaí é fazer parte da comissão da Copa de 2014 sem exigir, como prometera, que brasileiros de alta respeitabilidade dela façam parte.</font></div><div><br /><font face=’Verdana’ size=’2′>Num país em que jogadores da seleção brasileira de futebol desconhecem quem foram seus antecessores 50 anos atrás, não espanta que, perdão pela repetição, gente boa se engane com o discurso dos cartolas e não veja que</font></div><div><br /><font face=’Verdana’ size=’2′>Bosman não afundou o futebol europeu, assim como Pelé não afundaria o brasileiro caso, de fato, a lei fosse implantada com tudo de modernizador que traz, como a possibilidade, que deveria ser obrigatoriedade, do futebol-empresa, por exemplo.<br /><br /></font></div><div><font face=’Verdana’ size=’2′>Porque o mesmo cartola que reclama do empresário (alguém que o jogador escolhe, o que é diferente de ser compulsoriamente propriedade de um clube como antes, e, convenhamos, o livre-arbítrio ainda deve valer mais que a palavra dos cartolas) é aquele que se associa a ele, por baixo do pano.</font></div><div><br /><font face=’Verdana’ size=’2′>A ponto de recentemente uma negociação ter gorado entre dois gigantes de nosso futebol porque o presidente de um pediu R$ 150 mil em sua conta para autorizar a transação, o diretor de futebol do outro pegou o dinheiro em seu clube e simplesmente não o depositou, para ficar com ele. Depois, argumentou que depositou, mas levou cano.<br /><br /></font></div><div><font face=’Verdana’ size=’2′>Porque é assim que funciona e é por coisas como essas que nossos clubes estão como estão, apesar de um caso como o acima não poder ser contado com nomes, pois impossível de provar. Só que a culpa não é da Lei Pelé, sem prejuízo das correções que nela caibam.<br /><br /></font></div><div><font face=’Verdana’ size=’2′>Em resumo, tudo é fruto da miséria nacional, aí entendida como a desonestidade, intelectual, inclusive, de nossos cartolas e políticos, aliada à desorganização dos atletas, que se comportam como gado de corte ou bobos da corte.</font></div><div><br /><font face=’Verdana’ size=’2′>Corte e corte, melhor seria com circunflexo, chapeuzinho, quase em desuso, mas jamais cartola.</font></div><div><font face=’Verdana’ size=’2′> </font></div><div><font face=’Verdana’ size=’2′>Por Juca Kfouri</font></div><div><font face=’Verdana’ size=’2′>Folha de S. Paulo, 30/03/2008</font></div>