<div><font face=’Verdana’ size=’2′>O colombiano Fernando Rodríguez Mondragón identificou o falecido vice-almirante argentino Carlos Lacoste como um dos autores do suposto suborno para que a seleção de futebol do Peru perdesse por 6 a 0 da Argentina na Copa de 1978, em uma das partidas mais polêmicas da história dos Mundiais da Fifa. </font></div><div><font face=’Verdana’ size=’2′></font></div><div><br /><font face=’Verdana’ size=’2′>Lacoste, que foi vice-presidente do Comitê Organizador do Mundial de 78 (EAM 78, na sigla em espanhol), com rápida passagem como presidente da Argentina em dezembro de 1981 e vice-presidente da Fifa, foi acusado por Rodríguez Mondragón no meio de uma longa entrevista telefônica concedida a Terra Magazine Latinoamérica.<br /><br />Rodríguez Mondragón esclareceu que o Cartel de Cali, que era dirigido por seu tio e seu pai, os irmãos Miguel e Gilberto Rodríguez Orejuela, não deu dinheiro para o pagamento do suposto suborno, mas só serviu para fazer a ligação entre as partes.<br /><br />A seguir, a entrevista com Rodríguez Mondragón, que cumpriu pena de cinco anos de prisão por narcotráfico, a partir da qual, afirma, decidiu mudar de vida e escrever o primeiro livro El Hijo del Ajedrecista 1 ("O Filho do Enxadrista") e El Hijo del Ajedrecista 2 – que será lançado em janeiro e dará continuidade a sua versão da história do Cartel de Cali.<br /><br />Terra Magazine – Como o Cartel de Cali se envolve com a famosa goleada de 6 a 0 no Peru, que permitiu à Argentina superar o Brasil e se classificar para a final da Copa de 78?<br />Rodríguez Mondragón – Há um erro de interpretação da notícia sobre o suborno ao Peru. Três dias antes da partida, meu tio (Migue Rodríguez Orejuela) recebe um telefonema do empresário Carlos Quieto, que trazia jogadores argentinos para o América de Cali. Ele pede que o ajude a entrar em contato com o presidente da Federação Peruana de Futebol (FPF). Queria pedir que recebesse uns emissários mandados pelo governo argentino e a AFA (Associação de Futebol Argentina). E meu tio tinha feito amizade com o presidente da FPF porque queria levar grandes jogadores peruanos para o América. Mas o Cartel não pôs dinheiro. O dinheiro foi todo argentino. Meu tio só fez o contato.<br /><br />Como se seguiu então a situação?<br />No dia seguinte, dois dias antes da partida Argentina x Peru, se faz a reunião na sede da FPF, no bairro de Miraflores, em Lima. Participam o presidente e o tesoureiro da FPF. E, pelo lado argentino, constará em meu próximo livro o nome de Lacosta, que foi a essa reunião com outro militar sócio dele e com uma terceira pessoa que disse representar a AFA.<br /><br />E qual foi o acordo feito? De se pagar o dinheiro para jogadores e comissão técnica. E também se resolve sobre a doação de trigo do governo argentino ao peruano, que estava solicitada há muito tempo, mas que finalmente se decide dar de graça. A FPF, que também recebeu dinheiro, decidiu mandar quatro jogadores chaves, que eram a estrutura da equipe, de experiência e liderança, que é X e Y (Mondragón titubeia, mas diante da insistência, dá os nomes). O goleiro (Ramón) Quiroga e (Juan) Muñante, que desferiu um chute na trave no início da partida, mas queria chutar pra fora, porque da posição em que estava era mais difícil colocar pra fora do que fazer o gol. E também um zagueiro e um volante. Ainda que, na realidade, depois todos os jogadores acabaram recebendo um extra de US$ 50 mil cada um, que foram pagos como um incentivo por terem chegado até aquela fase do Mundial. Tenho os montantes de quanto foi dado a cada jogador.<br /><br />E como você dá essas precisões disso no seu livro?<br />Vamos recriar a partida. Temos visto o vídeo com dois comentaristas daqui (Colômbia) muito famosos, que sabem de futebol. Eles viram 5 jogadores dos quais três estão em minha lista. Estava o goleiro (Quiroga), não vou negar. Se você consegue um goleiro (nesse esquema), tem 80% solucionado.<br /><br />Mas o Peru quase faz um gol quando a partida estava 0 a 0 e Muñante chutou na trave. Ele tirou para fora, mas quase faz o gol. Era mais difícil tirá-la do que fazer o gol. A 7 minutos de jogo, com as pernas inteiras, estava novinho. O atacante (NR: supostamente subornado) todos sabemos que é Muñante.<br /><br />O jogador historicamente mais suspeito é o zagueiro Rodulfo Manzo, que formou a defesa central com o capitão Héctor Chumpitaz, que há alguns dias rechaçou todas as acusações. Quando uma defesa (central) vai para trás, o outro também. É preciso assistir o vídeo para ver qual dos dois foi (para trás). Há uma ‘escapada’ de um beque central incrível. No meu livro eu darei todos os nomes.<br /><br />E você sabe se todos os jogadores argentinos sabiam disso antes da partida?<br />Creio que não sabiam. E mais, creio que a Argentina, com a pressão local etc, teria feito os 4 gols (sem necessidade de acordos extras). Tudo isso é um segredo que a Fifa conheceu com o passar do tempo, mas o que podia fazer? Agora já não se fará mais nada, passaram-se 30 anos. Eu conto isso porque decidi mudar minha vida depois da prisão e contar tudo para terminar com o mito da organização que já não existe. Mas já não se fará nada, nem mesmo o prejudicado, Brasil, nunca fez uma denúncia formal ou algo do tipo.<br /><br />Como seu tio sabia de tudo isso se você está contando que ele não participou da reunião na qual, supostamente, se fez o acordo?<br />Porque contaram para ele. Quieto e outros amigos argentinos que ele tinha no futebol. Ele se surpreendeu com todos esses rumores que houve depois da partida e ligou os pontos. Para não se criar especulações, no livro estarão os nomes e telefones dessas pessoas, que estavam na agenda do meu tio. Se eu digo presidente da FPF, ali se verá nome e telefone dessa pessoa. Meu tio depois se deu conta de que tinham o usado. No último ano antes de ser extraditado (para os Estados Unidos), me disse "jogaram comigo, porque me usaram". Tenho os detalhes porque meu tio guardava com muito zelo suas coisas. O nome de Lacoste aparecerá no livro. Os bons trabalhos de meu tio logo foram recompensados com alguns jogadores argentinos que chegaram ao América, como (Julio) Falcioni, quando nessa época os jogadores argentinos não gostavam de ir jogar na Colômbia.<br /><br />Lacoste tinha outros negócios com o Cartel de Cali?<br />Um sítio que meu tio comprou na Argentina foi recomendado por esse almirante. Esse sítio existe, tem fotos, e se chama "Villa Cometa". O nome foi dado por Carlos Quieto, que era quem ganhava todas as "cometas" (comissões ilegais) com os passes (de jogadores) do América de Cali. O último foi a transferência de (o paraguaio Roberto) Cabañas ao Brest da França, quando falsificou a assinatura para o presidente da Federação (Colombiana), Juan José Bellini, que era amigo do meu tio. Nos roubou o dinheiro, porque a venda foi por um milhão e pouco, eu peguei 400.000 e (Quieto) saiu da Colômbia correndo.<br /><br />Que outras influências teve o Cartel de Cali no futebol fora da Colômbia?<br />Meu tio não deixava os árbitros que vinham à Copa Libertadores da América pagar nada. Eles se encantavam ao vir a Cali, porque tinham tudo pago. </font><font face=’Verdana’ size=’2′>Quando iam pagar a conta do hotel, lhes diziam que estava paga. Mas o América não pôde ganhar a Libertadores porque (João) Havelange (ex-presidente da Fifa) era contra o narcotráfico. E a Fifa o havia pressionado com o América. Na final de 1999, contra o Palmeiras, juntamos US$ 200 mil para os árbitros, mas quatro horas antes da partida nos devolveram, porque Havelange havia dito (aos árbitros) que se recebessem esse dinheiro ele os complicaria. No meu primeiro livro já contei muito sobre o controle absoluto exercido nos árbitros colombianos. Mas agora contarei também sobre (o ex-jogador peruano Oswaldo) "Cachito" Ramírez, inspetor da Fifa que era muito amigo do meu tio. Ou sobre (o árbitro colombiano) J.J. Torres, que apitava quase sempre para os times argentinos na Libertadores, que pagavam US$ 50 mil dólares por partida. Todo mundo sabia disso em Cali. A influência de (Julio) Grondona (presidente da AFA) desde que o nomearam.<br /><br />Por Ezequiel Fernández Moores, de Buenos Aires, Argentina<br />Terra Magazine, 12/12/2007</font></div>