Nos meses de março e abril deste ano, o mundo esportivo sofreu um grande abalo em sua estrutura: em 45 dias, cinco atletas de alto rendimento foram vítimas de paradas cardíacas e quatro deles tiveram morte súbita em plena atividade física, e no auge de suas vidas. A preocupação dos médicos e das autoridades esportivas agora é rastrear e prevenir esse tipo de acontecimento, além de alertar a população dos perigos, pois a doença não atinge somente atletas, mas também bebês e adultos, embora numa proporção muito pequena.
No 24º Congresso Brasileiro de Medicina Esportiva, realizado no último dia 11 de maio, em Porto Alegre, especialistas no assunto debateram os casos mais recentes e os procedimentos para evitar o problema. Segundo eles, a morte súbita é um acontecimento devastador e parece uma violação inexplicável da ordem natural das coisas, principalmente por acontecer no momento em que o atleta se encontra numa condição física excelente e que é exemplo de vida saudável para a população.
Os especialistas afirmam que não é possível antecipar todos os riscos, mas que o acompanhamento médico é importante. Ele pode detectar e prevenir o infarto do miocárdio, acidentes vasculares cerebrais (AVC), derrames, arritmias e cardiomiopatia hipertrófica (aumento do músculo cardíaco), doença genética que dificulta a saída do sangue do coração, forçando o órgão a trabalhar mais.
Para Jomar Souza, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte, as mortes súbitas acontecem na razão de um caso para cada 133 mil atletas masculinos de alto rendimento, aqueles que treinam para disputar as competições oficiais de seus esportes. No caso das mulheres, essas mortes tornam-se mais raras, uma para cada 700 mil esportistas. “Infelizmente, por mais tecnologia que se tenha, será impossível zerar o número de mortes súbitas em atletas. Em alguns casos, a doença no coração apenas se manifesta uma vez, na hora da morte”, afirmou o médico.
Genética
Pesquisa do Comitê Olímpico Internacional identificou as características mais comuns dos competidores de alto rendimento na faixa etária dos 35 anos que morreram durante as competições. Metade desses atletas morreu por causa de doenças cardíacas herdadas geneticamente dos pais e 10% devido à arteriosclerose cardíaca desenvolvida precocemente; 40% tinham menos de 18 anos e, em relação ao gênero, a proporção é de uma mulher para nove homens falecidos.
Estudos realizados entre 1966 e 2004 e publicados no Jornal Europeu de Cardiologia Preventiva detectaram casos dessas mortes em quase todos os esportes. O futebol saiu na frente com 30% das mortes súbitas, basquete tem 25% e corrida 15%. Os atletas que normalmente morrem durante a prática do exercício desportivo, seja ele amador ou de competição, parecem estar em condição física excelente. Em 75% desses casos, nem o atleta nem a família percebem qualquer problema de saúde que possa lhe tirar a vida.
Geralmente as vítimas de morte súbita apresentam alguns fatores de risco que se deve levar em conta no histórico familiar como: doenças de coração; perda de consciência (síncopes); tonturas ou perdas de consciência durante o exercício físico; dores torácicas durante o esforço; palpitações associadas ao esforço; eletrocardiograma anormal; e morte súbita quando jovem (antes dos 40 anos).
Conheça os casos de morte súbita em atletas de alto rendimento
17.03.2012 – O meio campista Patrice Muamba, 23 anos, do time de futebol inglês Bolton Wanderes, ficou clinicamente morto por 78 minutos após sofrer sucessivas paradas cardíacas. Os médicos conseguiram reanimá-lo ao aplicar 15 choques de desfibriladores. O atendimento no campo contribuiu para sua recuperação.
24.03.2012 – O jogador italiano de vôlei Vigor Bovolenta, de 37 anos, morreu após reclamar de dores no peito durante a partida entre sua equipe, Forli, contra o Macerata Lube, pela segunda divisão do campeonato italiano.
14.04.2012 – Dia fatídico para o esporte mundial: após sofrer uma parada respiratória, morreu a jogadora da seleção de vôlei venezuelana Verônica Gómez, de 26 anos. Ela disputou a última temporada pelo Lokomotiv Baku, do Azerbaijão. No mesmo dia o jogador de futebol Piermario Morosini, 27 anos, sofreu uma parada cardíaca e morreu durante o confronto com o Pescara, pela série B do campeonato italiano.
30.04.2012 – O nadador norueguês Alexander Dale Oen sofreu uma parada cardíaca embaixo do chuveiro e morreu, depois de um treino, no centro de treinamento de Flagstaff, no estado americano do Arizona, onde se preparava para os Jogos Olímpicos de Londres.
22.01.2009 – Clement Pinault, do Clemont, time de futebol da segunda divisão francesa, sofreu um ataque cardíaco aos 23 anos. O jovem, que atuava na defesa, foi levado para o hospital, ficou internado em coma induzido, mas faleceu. Quando ingressou na equipe, Pinault não apresentava nenhum problema médico.
25.08.2007 – O jogador espanhol Antonio Puerta, do Sevilla, espanhol, com passagens pela seleção de seu país, morreu em consequência de encefalopatia e por uma falência múltipla dos órgãos proveniente da parada cardíaca que sofreu no jogo que disputou contra o Getafe, pelo campeonato espanhol.
30.08.2007 – O jogador de vôlei francês Cedric Schlienger, de 26 anos, do Charmont, equipe da segunda divisão daquele esporte no país, sentiu-se mal durante o treino e morreu a caminho do hospital.
27.10.2004 – O zagueiro Serginho, 30 anos, jogador do São Caetano/SP, sofreu uma parada cardíaca aos 14 minutos do segundo tempo, numa partida contra o São Paulo. Exames feitos em fevereiro de 2004, no Instituto do Coração, revelaram que Serginho tinha arritmia devido à miocardiopatia, doença que dilata o músculo cardíaco.
26.06.2003 – Marc Vivien Foé, de 28 anos, defensor da seleção do Camarões, morreu em Lyon, na França, durante jogo de seu país contra a Colômbia, pela semifinal da Copa das Confederações. Suspeita-se que ele tenha sofrido um ataque cardíaco ou aneurisma.