<font face=’Verdana’ size=’2′>"-Chega aqui pertinho para eu te contar uma coisinha, é segredo!<br />-Segredo!!! Jura menina, verdade?<br />-Juro, fulana me falou jurando que é verdade.<br />-Tá vendo a Cris…pois é sem vergonha e vadia. Ontem tinha um de carro pegando ela, hoje é outro. Tem pai não?<br />-Pois é comadre e, a Toninha… pega nem gripe, feinha a coitada…<br />-Vai encalhar tadinha! Mas é digna, melhor que a outra que vadia. É feinha mas preservada!"<br /><br />Um dos comportamentos mais típicos de nosso país é a fofoca. Bem descrita no Incidente em Antares de Érico Veríssimo. Parte integrante de nossa cultura a fofoca é uma instituição sacramentada basta observarmos a mídia existente para a nutrir. Meter a língua e destilar o veneno em dom peçonhento tradição. A veracidade dos fatos não importa, mas sim o lado espetacular do imaginário, e o dom de<br />retransmitir os fatos em sua passionalidade. <br />Não é raro encontrarmos pessoas destrutivas, que simulam amizade, companheirismo, lealdade, apreço e na realidade pelas costas fazem da prática de falar mal dos outros a essência de sua <br />vida. De modo similar ao aproveitar- se da fraqueza alheia, a prática do mal dizer é<br />uma traição, uma punhalada pelas costas. Pessoas com este tipo de perfil são mentirosas, falsas, sem caráter, e com uma tendência extrema a viverem justamente aquilo que mais falam mal por inveja, por terem em seu inconsciente o mesmo conteúdo do falatório mal resolvido em sua psique. O mecanismo da projeção. <br />Assim pessoas com a sexualidade e afetividade mal resolvidas tendem a falar mal justamente destes aspectos na vida alheia, e o mesmo ocorre com outras temáticas. Soma se a falta de caráter as mentiras, ignorância, fingimento manipulação. Tudo em nome do falar mal. Estilo que inclusive invadiu o meio jornalístico inspirado no pior do mau gosto. E o que fazer quando isto ocorre? Como nos proteger de pessoas sem caráter? Infelizmente não há receitas. Ninguém tem bola de cristal para prever quem presta ou não. E os relacionamentos interpessoais são feitos esperando se dignidade, ética e confiança.<br />A noção de intimidade compartilhada então vira algo devassado e publicado. Depois vem a desculpa: "Juro que não fui eu quem falou!" Perpétua tão santa e imaculada, tantos juramentos e veneno… Mas existe ciência para a maledicência. Todo fofoqueiro é um bom detetive. Busca avidamente problemas do outro incansavelmente. Quando encontra línguada dispara. Fatos são aumentados e distorcidos sem crise de consciência. O alvo é bem interessante: qualquer um que se destaque socialmente seja por méritos ou deméritos. Se a pessoa tiver vida pública melhor. Xuxa, Ronaldo Fenômeno, Rubens Barrichelo, basta estar em evidência para detonar o Tsunami verborrágico. Assim destruímos nossos ídolos perversamente.<br />Isto associa se diretamente a nossa cultura cristã em sua antropofagia. Já que Cristo morreu por nós sinto me no direito de crucificar um por dia. Eu mesmo por vezes assusto me com a série infindável de boatos a meu respeito existentes, seja pelo fato de ser um cego produtivo, pelo fato de estar na mídia, pela realização profissional. Mas deixo ao final a receita: falem mal, falem bem, falem de mim…<br /><br />Por Jorge Antonio Monteiro de Lima*<br /><br />(*) Analista, pesquisador em saúde mental e psicólogo. Presidente da OSCIP Instituto OlhosDaAlmaSã. <br /></font>