Hoje, segunda-feira, dia 23 de Julho o nosso Sindicato completa 60 anos de vida. Escrever sobre o progresso da entidade faz com que eu me deixe levar numa viagem pelo tempo passado de pelo menos duas décadas.
Em 1984, quando atuava na SE Palmeiras, tive o primeiro encontro efetivo com o Sindicato. O jogador Mário Sérgio – esse mesmo que hoje é treinador e comentarista de televisão – se via às voltas com aquele problema de doping e era perseguido cruelmente por uma parte da imprensa esportiva. Indignados com esse trabalho extremamente dirigido contra o Mário, nos reunimos, numa segunda-feira, na antiga sede do sindicato, no prédio da Federação Paulista de Futebol. Essa reunião contou com atletas de todos os clubes considerados grandes, mais ou menos 60 atletas. Discutimos todas as possibilidades de manifestação de repúdio e definimos que voltaríamos a nos reunir dali a uma semana.
O assunto se tornou publico e aquela semana passou agitada com as posições tomadas. Assim teríamos que definir novas posições para continuar com nossa posição em prol de um companheiro de profissão e de nós mesmos. Mas, quando cheguei para a reunião senti uma grande frustração. Presentes, eu o Mário e o Deodoro (zagueiro do Juventus) diretor da entidade, ninguém mais. Nem o restante da diretoria se deu ao trabalho de aparecer. Nossa intenção parara por ali e ficamos totalmente desprotegidos. Pensei, que difícil ser um trabalhador respeitado.
Com o passar do tempo nosso bom Deus me conduziu para a presidência do sindicato. Assumi com todo o gás, esperando fazer um trabalho extremamente diferente. Lógico que passei por um processo de aprendizado, pois, jogador que era, estava acostumado a resolver as coisas muito rapidamente. Obvio também que pensava que contaria com o apoio daqueles que haviam jogado comigo. Mas assim não aconteceu e aos poucos fui percebendo, e aprendendo, a melhor forma de atuar. Não adiantava buscar apoio de gente que não conhece sua condição de cidadão. Tal qual a qualquer pobre brasileiro, o atleta profissional não se faz respeitar.
Percebi que seria difícil incutir politização a uma categoria que faz parte de um contexto que não tem cultura para fazer valer seus direitos, porque também não cumpre seus deveres. Sendo assim, inconscientemente, iguala suas perspectivas. O brasileiro não quer cobrar uma posição de quem quer que seja porque não quer se comprometer. Dá trabalho participar, se envolver, refletir, discutir, pleitear coisas boas, porque precisa por a mão na massa. Mais fácil assumir o papel de “beira de briga”.
Depois desse período mudei minha estratégia. Percebi que precisava conquistar bons resultados para ser respeitado e reconhecido pela categoria. E assim fui seguindo, sempre ajudado por alguns companheiros, fazendo um trabalho de formiguinha, mas que já no primeiro ano surtiu efeito. Tanto que surtiu que já era uma pedra no sapato dos desmandos dos mais nefastos seres que militavam no esporte. Fui condecorado com um anúncio de não contratação pelos clubes de São Paulo e isso fez com que passasse quase dois anos jogando fora do Estado prejudicando minha atuação sindical. Depois, percebendo ser impossível conciliar as coisas, fui obrigado a terminar minha carreira no futebol precocemente. Hoje entendo que foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido. Sem o tempo todo absorvido diretamente no esporte pude ir me preparando para a representação sindical. Com isso pude ver também alguns trabalhos e sonhos realizados.
Acabar com o “passe”, conseguir receber o Direito de Arena, mudar o horário dos jogos, ver incluído no calendário da CBF o respeito às férias e a preparação para a nova temporada, foram alguns sonhos que se materializaram. Mas o gol de placa, e que muito nos gratifica, é a constatação de que como fruto destas vitórias se estabeleceu a dignidade do atleta profissional, que hoje não aceita mais ser desrespeitado pelo seu empregador, bem diferente do que aconteceu naquele ano de 84. Hoje os atletas sabem que podem contar com o respaldo do Sapesp, esta consciência fortalece a categoria e nos possibilita crescermos juntos.
Então nesse ano queria compartilhar nossas conquistas com todas as pessoas que de alguma forma fizeram e fazem parte dessa caminhada. Começando pelo querido Caxambu, passando pelo Gérsio Passadore, Fábio, Mario Travaglini, Dudu, Toninho Cecílio, Eduardo Ferreira, Walter, Meloni, José Góes, Heraldo Panhoca, Deodoro, estendendo aos ex e atuais diretores, funcionários e colaboradores. Personagens que construíram a história do Sapesp e merecem ser lembrados pela determinação, fidelidade, comprometimento, companheirismo, fraternidade e dedicação. Também dedicamos nossas vitórias àqueles que perderam um pouco do pai, marido, esposa, irmão, filho, amigo porque dedicaram muito de seu tempo à nossa instituição, e na figura de Luciana Tavares Martorelli, minha esposa e companheira a mais de 20 anos, a todos presto esta humilde homenagem.
Da mesma forma com que comemoramos esse ano histórico sabemos que nossa responsabilidade aumenta e temos certeza que vamos expandir ainda mais, realizando projetos idealizados em favor da melhora do esporte, conseqüentemente do atleta, e fazendo com que a nossa categoria ocupe cada vez mais seu espaço, seja de fato ouvida e respeitada.
Fica os meus mais sinceros agradecimentos a todos aqueles que têm nos enviado mensagens de reconhecimento pelo trabalho executado, o que nos motiva a estar sempre melhorando.
Parabéns Sapesp.
Parabéns Atleta Profissional.
Rinaldo Martorelli
Presidente