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Onde a grama não nasce: Treino “Chático”

LIÇÃO OLÍMPICA
Depois de um início preocupante, assustados que estamos com todo esse momento em que o futebol reflete e se confunde com nosso quadro político, nossa seleção olímpica sacodiu a poeira e soube reagir às criticas.

Mostrou maturação, cresceu durante a competição e encarnou o espírito olímpico. Lavamos a alma, além de tirar o peso das costas. O alívio, a alegria resgatada e a tão almejada medalha de ouro, é a lição e aprendizado que ficam. A qualidade individual é muito importante, mas se usada no jogo coletivo, onde todos são importantes e necessários para a construção do modelo tático, onde todos podem atacar, mas todos devem e precisam defender.

Parabéns a todo grupo, em especial ao ‘Aranha’ (Mário Rogério Micale) meu ex-companheiro de Londrina e aos atletas: Weverton e Marquinhos, com quem tive a honra e privilégio de trabalhar no Corinthians.           

 
TREINO "CHÁTICO"
Tive muitos treinadores e técnicos, de todos os tipos.  Treinadores que durante a semana eram muito bons na preparação da equipe, e técnicos que durante o jogo enxergavam, analisavam e sabiam usar as peças que tinham nas mãos. Tive também aqueles que aliavam ambas as qualidades. Todos os tipos possíveis e imaginários. Em especial, um muito competente (ainda está na ativa).

Toda semana, antecedendo o coletivo, ele dava um treino tático (que na realidade era muito ‘CHÁTICO’) “sem bola”, onde saia jogando com o lateral e trocávamos passes imaginários até chegar ao gol adversário para finalizar a jogada ensaiada. Muitas vezes questionados por algum jogador, ele explicava:

 
– É para memorizar, escolher a melhor opção e sair naturalmente no jogo…

Certa vez o questionei e fiquei sem resposta: 

-Professor, não seria melhor fazer com a bola, para simular a situação de jogo?  Era um saco!  Jogadores tocando uma bola ‘invisível’, sempre de dez a vinte minutos. 
 
No vestiário, enquanto nos trocávamos para mais um dia de treinamento, escutei um comentário:
– Hoje tem …

Respondi, sem me alongar, nem explicar:

– Deixa pra mim…

 
Durante o aquecimento, volta e meia, encostava um jogador e tentava tirar de mim o que faria, qual seria minha providência. Não dava bola, apenas sorria!
 
Começa o treino, todos posicionados, em busca da jogada invisível, sonhada e repetida.

A “bola” chegou para o atacante, que ajeitou o corpo e ‘soltou’ a perna num chute em minha direção, só deu tempo de ouvir nosso treinador aos berros: 
 
– Golaço, Valeu!  Porque não foi na bola, Julio?
 
Eu, que fizera o famoso “golpe de vista”, só olhei a ‘bola’ e gritei:
 
– Pra foooooora!! Se fosse no gol eu teria pulado, professor, foi pra fora!!!!
 
Todos tentaram, sem sucesso, esconder os risos e os comentários. Terminou ali nosso famoso treino “CHÁTICO”.                     

Ele continuou a realizar esse treino, pelo menos uma vez por semana, mas introduziu esse pequeno detalhe pertinente e fundamental ao futebol: a bola.
 
Durante nossa campanha, conseguimos fazer o tão sonhado e imaginado gol, fruto da jogada ensaiada.

– Tá vendo , dizia, ele!  Fruto da nossa jogada ensaiada!
 
Alguns companheiros que me olhavam, sabendo que o recado era pra mim, escutaram:

– Usando a bola fica bem mais fácil né?

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Júlio César Bonfim é ex-goleiro e atuou em equipes como Corinthians, Vasco e Londrina. Hoje, é preparador de goleiros do Projeto Expressão Paulista. Na atual profissão, já passou por Corinthians, Audax-SP e Seleção Brasileira Feminina.

 

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