Kevin Prince Boateng se encontrou com o presidente da FIFA nesta sexta-feira, na sede da entidade, para discutir a luta contra a discriminação no futebol. Joseph S.Blatter aproveitou a oportunidade para convidar o meia do Milan a participar da recém-criada Força-Tarefa Contra o Racismo e a Discriminação. A reunião também serviu para jogador e dirigente compartilharem opiniões sobre as medidas a serem tomadas a fim de erradicar o problema.
O sol brilhava alto em Zurique quando Boateng chegou à sede da FIFA para se encontrar com o presidente Blatter. O tema da conversa, no entanto, apontava para uma perigosa nuvem negra no céu do futebol mundial: a discriminação e o racismo.
"O nosso esporte, que é extremamente popular, com cerca de 1 bilhão de apaixonados no mundo todo, infelizmente sofre de diversos flagelos: violência, trapaça, manipulação de resultados, discriminação", destacou Blatter no início da reunião. "Aqui na FIFA tentamos combater todos esses problemas, mas a questão da discriminação é a que mais me enfurece. É horrível. Precisamos combater esse demônio, mas é difícil encontrar a resposta adequada."
Para Boateng, que esteve em Genebra nesta quinta-feira para participar da celebração do Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial, na 22ª sessão do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, a questão se tornou capital em 3 de janeiro deste ano. Na data, durante um amistoso do Milan, o meia decidiu abandonar o campo de jogo com os companheiros aos 26 minutos do primeiro tempo, indignado com os cantos racistas que vinham das arquibancadas.
Mais poder aos árbitros
"Quando deixei o gramado contra o Pro Patria (equipe da quarta divisão italiana), sabia que não era a decisão correta, mas na hora fiquei muito irritado e sentido", explicou Boateng a Blatter. "Falei rapidamente com o árbitro, mas depois de 26 minutos não aguentei mais e saí de campo. Essa decisão não deveria caber ao jogador. Acho que talvez os árbitros precisem ter mais poder e coragem para tomar uma atitude. Mas sei que isso não é fácil."
Em seguida, o debate abordou a adequação das punições que devem ser impostas em casos como esse. Uma questão espinhosa, na medida em que é difícil saber se é justo punir uma equipe pelo comportamento de alguns torcedores. "Sou jogador e sei que a perda de pontos pode não ser vista com bons olhos", ponderou o ganês. "Mas é preciso ser muito rigoroso nesse assunto e, se há regras, elas devem ser aplicadas. É essencial que exista uma verdadeira ameaça de punição."
Para o presidente da FIFA, a melhor solução é combinar prevenção e punição. "Devemos caminhar em duas direções: em primeiro lugar, investir na educação dos jovens. Para isso, a FIFA dispõe de uma notável rede nos países afiliados, com cursos técnicos, escolinhas e muito mais. Devemos repetir a mensagem incansavelmente. É importante também que os jogadores que forem vítimas desses atos sempre denunciem os responsáveis. Em segundo lugar vem a punição. Não acredito que os jogos com portões fechados e as sanções financeiras sejam eficazes. A meu ver, é preciso tirar pontos ou até mesmo eliminar o clube da competição. É rigoroso, nem todos irão concordar, mas é a única maneira de ameaçar seriamente os desordeiros e fazê-los parar.
Sintonia e parceria
Nesse contexto, Blatter recordou que a FIFA vem elaborando propostas de medidas para combater a discriminação, as quais deverão ser "implementadas e aplicadas nas federações do mundo todo, em todos os níveis. Estamos trabalhando para apresentar algo no Congresso da FIFA em maio".
Ao longo da conversa, ficou evidente a sintonia entre jogador e dirigente sobre o tema. Nada mais natural, portanto, que o presidente da FIFA convidar Boateng a participar da recém-criada Força-Tarefa da FIFA Contra o Racismo e a Discriminação. "O presidente da força-tarefa, Jeffrey Webb, é um homem dinâmico e resoluto, que vai agir", disse Blatter. "Para ter credibilidade, esse grupo de trabalho precisa de pessoas com personalidade forte, que se destacam, como você." Uma oferta que o ganês teve o prazer de aceitar, ressaltando que "todos devem ser inflexíveis na questão e cabe à força-tarefa garantir que isso aconteça".