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Fim de carreira: A difícil escolha da hora certa de parar

SÃO PAULO – Mesmo aos 40 anos, Rivaldo foge da aposentadoria como o diabo da cruz. Romário parou de jogar aos 42 anos, mesmo assim, a contragosto. Marcos só parou porque não aguentava mais as dores. Também quarentão, Rogério Ceni se conforma que "provavelmente" esta será sua última Taça Libertadores da América.
 
Não é à toa que o fim da carreira é um tabu para os atletas. Se as letras de "adeus" choram, como cantou Francisco Alves, que dirá daquelas da palavra "aposentadoria", que representam uma despedida de si mesmo.
 
A professora Katia Rubio, especialista em Psicologia do Esporte e autora do livro "O atleta e o mito do herói" dá sua versão para essa paúra. "Ao longo da vida, os jogadores são entidades endeusadas e admiradas. Eles não são pessoas físicas. Assumem a identidade de heróis. Nesse sentido, parar é como se fosse uma morte em vida", afirma.
 
O empresário Gilmar Rinaldi, que encerrou sua carreira como jogador aos 37 anos, concorda com a professora, mas pinta o mesmo quadro com tons pastéis, mais suaves. "Eles não têm tempo de pensar em outras coisas. Por isso, é difícil encerrar a carreira".
 
Para ganhar uma sobrevida nos gramados, a maioria muda de posição, constatação do psicólogo do Esporte Rodrigo Scialfa Falcão. Foi assim com Baresi, Matthaus, Seedorf, Zé Roberto… Afinal, quem tem de correr é a bola, como disse o técnico Neném Prancha.
 
Existe, no entanto, uma insuperável limitação física. Aquele milésimo de segundo que fez Pato bater a carteira de Ceni no clássico São Paulo x Corinthians. "É o tempo de reação. Isso não tem jeito de reverter", diz Falcão.
 
Em outros esportes, os atletas não têm receio do recomeço. George Foreman parou em 1977 e voltou em 1987 para ser campeão em 94. Mesmo fininho, Schumacher voltou, mas não repetiu o sucesso e entregou os pontos.
 
AQUI, AGORA
 
É tão difícil parar porque os jogadores de futebol não fazem uma lição de casa que, cá entre nós, pouca gente traz em dia: pensar no futuro. "É difícil para o ser humano pensar no depois. Nossas demandas são para aqui e agora. A gestão de carreira não é um problema só do futebol. A maioria das pessoas não faz isso", diz Luciana Ângelo, doutoranda na Escola de Educação Física e Esporte da USP e vice-presidente da Associação Brasileira de Psicologia do Esporte (Abrapesp).
 
"A grande maioria dos jogadores não planeja sua aposentadoria", afirma Luis Eduardo Pinella, diretor financeiro do Sindicato de Atletas de São Paulo. "Poucos fazem a gestão de sua carreira".
 
Gerir a carreira significa aproveitar os altos rendimentos de hoje para pensar no que fazer depois, quando terminar a bonança, que dura entre 20 e 25 anos. É um planejamento que vai além do que faz hoje o staff de Neymar, que trata principalmente da imagem do melhor jogador do Brasil. É mais ou menos o que faz o corintiano Paulinho, que contratou um escritório financeiro para cuidar de sua vida. Os assessores tratam de seu orçamento familiar, dos investimentos – os preferidos do corintiano são o mercado de ações e os imóveis. "Antes mesmo de ir para a Europa, ele já tem seu pé de meia", diz um amigo.
 
PARAR PODE SER BOM
 
Vários jogadores conseguiram fazer um acordo com o tempo, como canta Caetano em sua "Oração do tempo". Jogaram até onde deu e, a partir daí, reinventaram suas próprias vidas. Ronaldo é um exemplo perfeito. Estrela de seis campanhas publicitárias, comandante de uma agência de marketing esportivo, que gerencia a imagem de Neymar, Lucas e Anderson Silva, e ainda arruma tempo para ser membro do Comitê Local da Copa. No mesmo patamar está Leonardo, poderoso chefão do Paris Saint-Germain. Depois aqueles que se tornaram empresários e, degraus abaixo, um punhado de jogadores que viraram comentaristas.
 
Túlio quer entrar nesse time. Aos 43 anos, continua sua obsessão (como ele mesmo define) atrás do seu 1000.º gol (como ele mesmo conta). "Já fiz vários cursos e estou preparado para ser comentarista. Assim que fizer o gol 1000, encerrarei a carreira. Estou tranquilo".
 
Para criar saídas na parte debaixo da pirâmide, longe dos salários de três ou mais dígitos, o Sindicato dos Atletas criou um programa de capacitação para ex-jogadores. A ideia é usar a fama que ainda trazem no bolso e transformá-la em argumento de vendas. Sim, fazer dos jogadores vendedores. Julio Cesar, bicampeão com a democracia corintiana em 82/83, aproveitou a ideia e se tornou representante da Pirelli no Brasil. "No terceiro mês, ganhava mais vendendo pneus do que jogando futebol".
 
Existe um poema que diz que a melhor forma de driblar o tempo e a morte é com a prole. Pelé, provavelmente o melhor exemplo de atleta que parou na hora certa, deve conhecê-lo. Ontem, Joshua, seu caçula, estreou no Campeonato Paulista sub-17. "É como se começasse tudo de novo", sorri, eterno. 

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