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Um jogador de futebol recebe uma proposta por telefone do vice-presidente de um clube. Interessado na oportunidade, aceita. O dirigente, no entanto, solicita que seja feito um depósito de R$ 3.500, em uma determinada conta, para eventuais despesas. Após o valor ser depositado pelo jogador, o dito dirigente some sem deixar rastros e o atleta acaba no prejuízo, sem clube. Um golpe. Tal história aconteceu com o lateral-esquerdo Jorginho Paulista, ex-Noroeste-SP, que acumula passagens por Vasco, Palmeiras, Cruzeiro, São Paulo, Botafogo, PSV Eindhoven e Udinese. Em 2000, foi campeão da Copa João Havelange e da Copa Mercosul pelo time cruz-maltino.
Em contato com o GLOBOESPORTE.COM/CE, o jogador afirmou que, há duas semanas, recebeu uma ligação de uma pessoa que se passava pelo vice-presidente do Ceará, Robinson de Castro, oferecendo um contrato no clube. Sabendo da carência da equipe por jogadores da posição, Jorginho logo se interessou e tratou de organizar os documentos.
O jogador de 33 anos, então, rescindiu o contrato com o Noroeste, clube com o qual havia assinado no começo de julho, para a disputa da Copa Paulista. Experiente, Jorginho lamentou ter caído no golpe.
– Eu já tenho uma rodagem no futebol nacional. Não acredito que caí num golpe desse. Tive um prejuízo enorme, porque agora não posso mais voltar ao clube, já que as inscrições para a competição acabaram. Agora é encontrar outro clube ou ficar desempregado até o final do ano – lamentou.
A reportagem tentou várias vezes contato com o número passado pelo suposto golpista ao jogador, mas o telefone estava desligado, apenas com mensagem de caixa postal. Além de Jorginho, outro atleta do Noroeste passou pelo mesmo episódio. O lateral contou que o volante Rafael Mussamba também foi procurado pelo mesmo homem que se passava pelo dirigente do Alvinegro de Porangabuçu, chegando a realizar o pagamento e rescindir o contrato com o clube. A reportagem, no entanto, não conseguiu falar com o volante.
– Essa pessoa que se passou pelo Robinson (de Castro) foi muito convincente. Deu informações que, para a gente, somente um real dirigente do Ceará podia ter. Ele disse que ia passar o número de uma outra conta para que fizéssemos o depósito. Uma conta que não fosse a dele, já que, como vice-presidente do clube, ele não podia passar o número direto da própria conta. No entanto, esse era o golpe. Após o depósito, o cara simplesmente sumiu – explicou Jorginho.
Assim que soube que havia sido vítima de estelionato, ainda no Aeroporto de Viracopos, em Campinas, ao descobrir que o número do vôo no qual viria para Fortaleza não existia, Jorginho registrou um Boletim de Ocorrência na delegacia do aeroporto. Em seguida, entrou em contato com o banco no qual tinha efetuado o depósito, mas se surpreendeu ao saber que a conta já estava limpa.
– Ele me passou o número da conta e o CPF. Fiz o BO, passei os dados para a polícia e descobrimos que o CPF dele era verdadeiro. A conta, inclusive, já existia há um bom tempo. Agora é esperar que o cara seja localizado e preso. Não é nem a questão do dinheiro, e sim de justiça – declarou.
Golpe antigo?
Em contato com o GLOBOESPORTE.COM/CE, o vice-presidente do Ceará, Robinson de Castro, lamentou o ocorrido e afirmou que o clube repudia qualquer ato de estelionato que envolva o nome do Vovô.
– Fiz um BO aqui em Fortaleza (na Delegacia de Defraudações e Falsificações), também, para que fossem tomadas as medidas cabíveis. Publicamos também uma nota no próprio site do clube, para que já ficasse claro que o Ceará não tem nada a ver com essas atitudes. Infelizmente, não tenho como fazer mais nada além disso – afirmou o dirigente.
Robinson ainda revelou que o golpe pode ser mais antigo do que se pensa. Ele relatou que, no último mês, recebeu ligações de jogadores, pais de jogadores e até de empresários, todos querendo confirmar a contratação de atletas. Robinson apenas negava e relevava o fato.
– Achava que era algum empresário se insinuando para que o clube contratasse o seu jogador. Uma vez, um pai de um jogador me ligou, dizendo que o filho estava indo para o aeroporto, perguntando se a contratação estaria certa. Na mesma hora, eu respondia: 'Não, meu senhor, deve ter sido algum engano. Não há interesse do clube'. Não sei quantas pessoas caíram nesse golpe. O Jorginho, no entanto, foi o único que se identificou e veio conversar com a gente – concluiu.