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Jogadores de futebol sem clube tentam encontrar um lugar ao sol

Por Estadão.com.br

Sérgio Raimundo Rosa Junior estava com o nome sujo por que não havia conseguido R$ 300 para quitar a dívida da compra de uma moto. Precisou pegar dinheiro emprestado para pagar a conta de luz. Foi assim, com os dois pés na porta, que o desemprego entrou na casa do lateral-esquerdo, que mora com os irmãos no Sacomã, zona sul de São Paulo. Uma informação menor na frase anterior faz toda a diferença para a compreensão do problema de Serginho. Sim, ele é lateral-esquerdo, jogador de futebol. O desemprego seria mais corriqueiro se a sua profissão não fosse o objeto de desejo de dez entre dez adolescentes, qualquer que seja credo, cor ou classe social.

Se serve de consolo, Serginho não vive esse drama sozinho. O Sindicato dos Atletas Profissionais de São Paulo (Sapesp) estima que 30% dos quase quatro mil jogadores do estado estão desempregados. É um número gigantesco se compararmos com a última pesquisa do Dieese que aponta 10,5% de desemprego em todos os setores da economia. Gente demais colocada para escanteio.

Para minimizar o problema, o sindicato criou o "Expressão Paulista", programa composto por treinamentos físicos e técnicos, realizados três vezes por semana, que deixam os jogadores prontos para o momento em que o mercado autorizar sua entrada em campo. "Expressão" significa exatamente o contrário o Expressinho, gíria que designa o segundo quadro, a equipe reserva. Além dos treinos, que ainda não têm um lugar definido em 2013, o sindicato vai promover amistosos contra Nacional e Flamengo de Guarulhos, por exemplo. "É importante não esconder nada dos atletas. Temos jogadores que têm condições de jogar na Série A, B ou C", diz Gerson Caçapa, ex-volante do Palmeiras e treinador do grupo.

Se serve de consolo, o Brasil não vive esse drama sozinho. No início do ano, foi realizada a terceira edição do Campeonato Sul-Americano de Jogadores Livres, no Peru, com seis países. Jogadores livres é um eufemismo positivo para desempregados. Organizado pela Federação Internacional de Jogadores Profissionais, o torneio atraiu 200 empresários de vários países. Obviamente, os brasileiros queriam o título, mas ficaram em quarto lugar. Mas nesse momento, o troféu que vale mesmo é a carteira assinada.

CURRÍCULO

Angelo Ramon dos Santos, o Ramon, eleito o melhor do torneio, está quase lá. Depois de receber propostas de times peruanos, está bem encaminhado com um clube da segunda divisão paulista. "O campeonato me deu experiência internacional e me colocou na vitrine", orgulha-se. Empresários explicam que ninguém sai com o currículo debaixo do braço batendo na porta dos clubes para procurar emprego. Os jogadores gravam DVDs com suas melhores jogadas, que funcionam como um cartão de visitas, mas o currículo – aquele que decide uma contratação – é o jogo. Por isso, o torneio no Peru e o projeto do sindicato são importantes. Sem o projeto, os atletas ficam ao Deus dará e treinam sozinhos em parques e academias de ginástica.

GARGALOS

Dois problemas explicam o excesso de mão de obra. O primeiro é o calendário reduzido, que não dá conta da quantidade de clubes no Brasil. Só no estado de São Paulo são 138. Na opinião de Caçapa, a saída seria seguir o modelo italiano, onde jogou na década de 80, e criar torneios regionais, fazendo com que os clubes fizessem viagens curtas, mas estivessem sempre em atividade. Uma espécie de municipalização do futebol.
"Outro problema é a quantidade de jogadores formados anualmente pelos clubes", enumera Mauro Costa, diretor de Relacionamentos do sindicato. Para complicar, o futebol tem funcionado como um vestibular bem lento, tipo conta-gotas, em que os reprovados insistem em voltar ao fim da fila para conseguir realizar o sonho de se tornar um jogador profissional.

O Sérgio Raimundo lá do começo conseguiu pagar suas contas, mas, de certa forma, abriu mão do sonho. Ele assinou um contrato com um campeonato da várzea e, por isso, só poderá voltar a se profissionalizar dentro de dois anos. Recebeu R$ 3.000 na assinatura do contrato e vai receber R$ 200 pelos jogos que fizer aos finais de semana. O futebol virou quase um hobby. Seu nome está limpo, mas o sonho ficou borrado pela tinta da conta de luz que foi paga na data certa.

NÚMEROS

Mercado em São Paulo

De 4 mil jogadores de futebol, 3,2 mil estão empregados. 30% estão sem clube.

Equipes profissionais

São 138 times em São Paulo e quase 30 mil clubes no País.

Registrados no Brasil

São 2,1 milhões de jogadores com carteira assinada e 11,2 milhões sem registros no País.

Jogos profissionais

5 mil partidas por ano e mais de 100 competições anuais. 

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