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O racismo estrutural: entrevista com Silvana Trevisan

Alvo de declarações racistas por parte do empresário Pedro Bravo em um programa esportivo espanhol, o atacante Vini Jr. foi mais uma vítima do racismo estrutural que ainda impera nos países de primeiro mundo. Quem afirma é Silvana Trevisan, assistente social do Sindicato de Atletas SP.

Em entrevista ao Portal do Atleta – www.sindicatodeatletas.com.br – Trevisan defende a herança cultural dos jogadores afrodescendentes e faz um alerta para categoria.

“Ignorar o racismo é fortalecer o complexo de “vira lata” que corresponde ao sentimento de inferioridade do povo brasileiro em relação ao que é estrangeiro”, defende.

A felicidade de um preto rico na Europa ainda incomoda?
Na minha opinião sim. Em um país colonizado pelos europeus se torna inadmissível reconhecer o talento, a inteligência de um atleta negro brasileiro e muito menos ter sua ascensão social adquirida pela sua competência profissional. Identifico que para os europeus é um afrontamento um negro conquistar um status no pódio dos afortunados onde sempre foi representado pela realeza branca. O que jamais o atleta negro deve aceitar é a opressão e o preconceito da identidade cultural do povo brasileiro. A expressão corporal e alegre é latente na alma de um povo que tem na sua história as heranças das tradições afro-brasileiras, como a capoeira, congada, jongo, maracatu e o samba de roda. Acredito que reprimir essa herança cultural é acabar com a identidade do atleta negro que representa o orgulho do povo brasileiro.

Como o atleta deve agir? Existe uma orientação social nesse sentido?
O atleta tem que denunciar e se manifestar repugnando o racismo estrutural tão presente também no futebol.  A prática de racismo é uma conduta criminosa que precisa ser combatida. Cada atleta que se manifesta contra o racismo dá voz para todos que que sofrem nos diversos âmbitos da vida social em desigualdades, violências e iniquidades às pessoas negras.

E para aqueles que defendem que ignorar é o melhor caminho?
Ignorar o racismo é fortalecer o complexo de “vira lata” que corresponde ao sentimento de inferioridade do povo brasileiro em relação ao que é estrangeiro. Termo criado e escrito pelo escritor Nelson Rodrigues após a derrota da seleção brasileira na Copa de 1950. Estamos no século 21 e essa profunda falta de autoestima está sendo revertida quando denunciamos os opressores racistas e xenofóbicos. O racismo é um sistema de opressão que nega direitos, não podemos nos intimidar e temos que denunciar essa violência com postura e fortalecer as práticas antirracistas.

Das arquibancadas nós sabemos. Existe racismo dentro dos vestiários?
Nos vestiários e em qualquer lugar pode existir o racismo, essa violência permeia em todos os ambientes da sociedade. O racismo pode ser cometido para desqualificar um atleta negro que não teve um desempenho esperado e se tornar o “bode expiratório” camuflando o desempenho do coletivo. O negro no futebol tem que provar sua competência em dobro e ter obediência técnica e essa submissão muitas vezes impede sua criatividade.  Quando se torna um destaque por sua competência profissional e expressa sua alegria quando faz o gol, imediatamente vem as críticas e as ofensas raciais e xenofóbicas desqualificando sua expressão e identidade cultural.

“Ao quebrar a máscara, estamos atrás de novas formas de sociabilidade que não sejam pautadas pela opressão de um grupo sobre o outro” Djamila Tais Ribeiro dos Santos, filósofa, feminista negra, escritora e acadêmica brasileira.

Silvana G S Trevisan
Assistente Social do Sindicato de Atletas Profissionais de SP

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