REDAÇÃO SAPESP
Dentre as inúmeras crianças que começam a aprender que o futebol é o esporte que movimenta o país, a grande maioria delas entende o quão especial seria se tornar um jogador de futebol e, com o passar do tempo, a motivação para isso mudou.
Se em outros tempos a grande motivação para se tornar um atleta profissional era poder atuar no seu clube de coração, fazer um gol em determinado estádio ou poder vestir a camisa da seleção brasileira, hoje em dia o grande objetivo é ganhar um salário acima da média e, consequentemente, poder ajudar os seus familiares.
O grande problema é que, apesar de poucos terem acesso a um salário como muitos observam no futebol europeu ou nos jogos de videogame, falta uma preparação para que o jogador consiga guardar o que recebe nos clubes pelos quais passará durante toda a sua carreira.
São muitas as armadilhas que aparecem no meio do caminho, desde empresários com índole duvidosa, clubes que deixam de pagar o que foi combinado e familiares que se aproveitam da vontade do jogador de ajudar.
Foi pensando desta maneira que o Cristiano, goleiro que começou a carreira no Lousano Paulista e conta com passagens por Atlético Paranaense, Figueirense e Sport, começou a se preparar enquanto ainda estava empregado e com uma longa perspectiva de oportunidades.
– Depois dos 25 anos, eu comecei a me preparar, mesmo com todas as dificuldades que um jogador passa aqui no Brasil, consegui administrar alguma coisa e isso contribuiu para que eu pudesse abrir a minha empresa.
E quando o ex-jogador comentou sobre o seu empreendimento é que o exemplo fica ainda mais nítido para todos os outros jogadores, afinal, muitos até conseguem ter a percepção da importância de guardar um dinheiro para usá-lo no futuro ou para gastos emergenciais, porém, é preciso saber exatamente como empregá-lo.
– Minha esposa tinha uma loja de roupa de bebê e quando colocamos os brindes que estávamos comercializando separadamente percebemos que houve um acréscimo no volume de vendas. Atualmente estamos trabalhando com todo o estado de São Paulo e com o Nordeste também.
O fato é que, apesar de não ser algo que seja uma prioridade, exemplos como os dados por Cristiano podem mudar o pensamento de outros jogadores, afinal, segundo o próprio ex-atleta, outros companheiros viram que o empreendimento extracampo estava dando certo e procuraram saber mais.
– Tem um jogador, o Rodrigo Matos, da cidade de Cosmópolis, que trabalhou comigo no CRB e ele vem para São Paulo uma vez por mês buscar roupa e tênis para vender por onde passa porque sabe que é uma maneira de sustentar a família dele. Infelizmente ele já passou por uma situação de não receber do seu clube e foi obrigado a procurar um plano B.
Situação como a que foi vivida pelo Rodrigo, ou seja, de não receber salários, está cada vez mais comum e são inúmeros os casos que são divulgados na mídia. Por isso é interessante que o atleta saiba que ter um plano B não é nenhuma vergonha, mas sim uma segurança de que ele poderá ter uma alternativa para conseguir dar uma tranquilidade maior para aqueles que estão ao seu redor.
Durante a conversa com o Cristiano, ele comentou, inclusive, que o Rodrigo pediu orientações sobre os procedimentos para abrir uma empresa para seguir os passos que o empreendimento criado pelo ex-goleiro.
– Ele perguntou também e nós, eu e minha esposa, procuramos passar para ele como era a melhor forma de vender os produtos. Deixamos também as portas abertas para que ele entre no negócio, caso seja do interesse dele, e assim consigamos ter mais acesso ao interior.
Com o passar do tempo o futebol, de uma maneira geral, ganhou novas exigências e os jogadores tiveram se preparar para atender aquilo que estava sendo cobrado e, assim como no esporte, é necessário que os atletas comecem a se preparar para os desafios que a vida colocará no caminho após o término da carreira.
Sobre isso, o Cristiano deixou uma mensagem final para os demais atletas que pretendem pensar numa aposentadoria tranquila e que não seja tão dramática por possíveis problemas financeiros.
– Eu acho que, hoje, o jogador não pode pensar exclusivamente no futebol, ou seja, ele tem que ter uma segunda opção de trabalho. Além disso, eles devem pensar bem, pois, infelizmente o futebol não dura para sempre e muitos jogadores não estão preparados para poder seguir uma carreira após a aposentadoria e acabam sendo pegos de surpresa, mas eu falo sempre que devem ter outra alternativa para não depender apenas do que ganhou no esporte.